segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Mentirinhas

Ela uma vez escreveu sobre isto, mas eu na altura ainda não me tinha iniciado nestas coisas das mentiras, pronto, vou ser piedosa, das mentirinhas que contamos aos nossos filhos, das histórias inventadas para os convencer a comer a sopa (não é o caso do meu, que come a sopa muito bem, mas temos outros problemas) e dos medos que lhes metemos (coisa estúpida, estamos assim tão desesperados?). Mas pronto, agora comecei. Acho que não foi só agora, mas a última semana teve uma elevada concentração destes episódios. Nunca fui muito destas coisas, preferia ouvi-lo chorar até ao fim do que tentar enganá-lo ou distraí-lo com outra coisa. Mas depois de uma tarde e uma manhã inteira a vê-lo correr, alheio aos ralhetes (será que os ouvia? estava sempre a correr...), mesmo depois de um susto de morte em que vi um carro aproximar-se e ele não parava de correr, uma senhora que vendia santinhos à porta da catedral deu-me a ideia. Te quedas conmigo? Tentou dar-lhe a mão, ele não quis, correu para nós, e a senhora a dizer que ele tinha de dar a mão aos pais, senão ficava com ela. E pronto: "Estás a ver, aquela senhora fica com os meninos que não dão a mão aos pais". Podia ter ficado por aqui, mas quis dramatizar para ver se acabava com a correria de uma vez por todas. "E depois entrega-os à polícia...". Mais uns passos, mais uma corrida e estavamos numa varanda a ver a esquadra da polícia lá em baixo. "Estás a ver, e depois os meninos ficam aqui na polícia e os pais têm de os vir buscar e nem sempre os encontram" (cruel, estava mesmo desesperada). Hoje queria-lhe vestir a bata e ele iniciou uma birra, não hesitei: "Olha que o F. hoje já vai à escola e leva a bata vestida, ainda agora o vi passar ali na rua e levava a bata". Foi remédio santo. Confesso que não gosto muito disto. Mas há momentos em que gosto menos das birras.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Tão fofinho, logo pela manhã...

Levantei-me, tomei banho, penteei-me (juro que sim), fui acordá-lo, espreguiçou-se, abri a persiana, baixei-me ao lado dele, ele ainda a espreguiçar-se estica uma mãozinha em direção a mim, pergunto "o que foi filho" e ele diz: "Estás despenteada!"

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Agosto pode ser um mês complicado

Ontem, à saída da escola:
- Onde vamos?
- Vamos para casa
- Mas eu não quero... Vamos ao café, comer um gelado?
- Não, hoje não pode ser, temos de ir fazer o jantar, comes depois uma fatia do bolo da mãe

Já no carro, a chegar a casa
- O francisquinho não tem ido à escola...
- Se calhar está de férias...
- Não, está na praia!
- Pois, tu também já estiveste de férias na praia, não foi?
- Posso ir à praia?
- Hoje não pode ser, temos de ir para casa fazer o jantar
- Mas hoje está calor...

(quando lhe disse o "hoje não pode ser" estive para lhe dizer que para a semana estamos de férias e que nessa altura ele pode ir à praia, mas quis evitar expetativas que podem ser defraudadas pela metereologia)

34

Tive a surpresa de dois muffins feitos de madrugada especialmente para o meu pequeno-almoço e foi uma surpresa tão bem preparada que só a descobri depois de ter tomado o pequeno-almoço. E tive um vestido que não foi supresa porque fui eu que o escolhi mas que era tão giro o resto são detalhes. E fui beber um sumo de morango em frente ao mar e tive a surpresa de ter um amigo que quis preparar-nos o jantar para eu não ter de fazer mesmo nada (eu só ia buscar comida já feita, mas ele achou que não devia).

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Quase 34

Como boa egocêntrica que sou, sempre tive expectativas muito elevadas em relação ao meu aniverário. Nunca correspondidas, claro. Quando era miúda, o meu dia de anos era o dia do ano em que toda a família se reunia. Eu, em vez de perceber como era bom que a família estivesse toda reunida e que o meu aniversário fosse aquela festa toda, achava mal que o dia que devia ser para mim fosse para todos. E que todos parecessem mais centrados nos comes e bebes do que em mim. Depois comecei a fazer festas com os amigos, mas nunca ninguém me fez uma festa surpresa, e eu sempre quis ser surpreendida com uma festa. Ao mesmo tempo, tenho com esta festa surpresa que nunca tive uma relação de amor-ódio, porque sou uma egocêntrica tímida que foge quando é o centro das atenções, e também uma gaja que gosta de pensar e planear tudo, e dois segundos depois do fator surpresa já estaria a pensar na roupa que devia ter vestido, nos mil e um inconvenientes daquela festa, das horas a que me ia deitar, das horas a que teria de me levantar no dia seguinte para ir trabalhar. Sim, sou uma parva perfecionista e obcecada que não consegue descontrair, eu sei, mas tenho melhorado. Estou quase a fazer 34. Sem perspetivas de festa, de grandes prendas, só um bolo e os meus dois rapazes, talvez um almoço, não sei se me apetece ir ao cinema ou à praia e sinceramente não me interessa. Não preciso de grandes coisas para ser feliz, só nós chega.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cansaços

Estou cansada. Penso em mudar de vida, mas depois pergunto que vida me daria direito a umas férias grandes com o meu filho. Era isso que eu queria. Não estar enfiada no trabalho enquanto está toda a gente de férias, dar ao meu filho o sabor de umas férias de verão decentes, memórias quentes de dias preguiçosos, sem pressas, sem nervos, sem doses massivas de dvd's infantis porque estou tão cansada que só consigo estar quieta no sofá e não consigo brincar com ele e já estou farta daqueles brinquedos e ele também deve estar, aquilo são coisas para brincar no inverno, quando sabe bem estar em casa. Com este calor deviamos andar na rua a comer gelados, nos baloiços ao fim da tarde, na praia ou na piscina, deviamos sentar-nos à porta de casa descalços a comer fruta fresca, mas não fica bem estar descalço na porta do prédio e e andar sozinha com ele na rua já não consigo, estou muito cansada.
Penso no que está mal e no que poderia mudar e constato que, mesmo que mudasse, teria na mesma de passar a roupa a ferro, fazer o jantar, limpar a casa, arrumar a roupa, separar a roupa para a meter na máquina, encher a máquina da loiça, esvaziar a máquina da loiça, pôr a mesa, levantar a mesa ao fim da tarde e isso é uma grande parte daquilo que me incomoda e me cansa. Mas não é a única. Se não andasse tão cansada talvez fosse mais fácil fazer isto tudo. Mas será que ganharia direito a umas férias mesmo grandes, dinheiro para uma casa e tempo para me sentar à porta dela ao fim da tarde?
Não sei bem o que é isto, se estou com uma súbita vontade de ser dona de casa ou se preciso desesperadamente de uma empregada.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Um galo, uma galinha e um ovo

Talvez para se sentir mais acompanhado, vem para a porta da cozinha enquanto estou a fazer o jantar. Atira-se para o chão, tira os sapatos, tenta calçar os sapatos, fala com o peluche como se estivesse a falar para uma pessoa e também faz de conta que fala pelo peluche (ontem o boneco dizia "estou tão feliz!", mas não consegui apurar porquê). Diz "mãe quero ajudar" e eu lá tenho de lhe dar um prato de cada vez para ele ir pousar à sala, parar o que estou a fazer para ver se o prato chega ao destino (até agora tudo bem, e fica tudo perfeitinho no sítio certo), abrandar o processo de retirar a loiça da máquina para ele sentir que me está a dar uma grande ajuda. Também se dá ao trabalho de percorrer os armários para fechar as portas e gavetas que deixei mal fechadas, mas quando não há nada para fazer ele segue-me os passos, saltarica entre as minhas costas e a minha frente, está sempre no meu caminho, resolve abrir e fechar as gavetas e os armários, pergunta "o que é ito" tantas vezes que já perdi capacidade de reagir, e ontem resolveu rodopiar até cair. Não andes à roda, joão, senão cais e magoas-te, olha que ficas zonzo, joão... PUM! Cabeça contra a ombreira da porta da cozinha, chorou, chorou, olha para isto, fizeste um galo. "Snif, snif, e uma galinha?". Sim, um galo, uma galinha e um ovo, essa cabeça está uma desgraça, não podes andar à roda.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O meu filho é um barco

Ontem não foi a primeira vez que usei brincos desde que ele nasceu, mas os brincos de ontem eram mais compridos do que o habitual e deviam ter um certo "je ne sais quois" que o fascinou. De manhã perguntou-me todo dengoso "o que tens?" e eu disse-lhe "são uns brincos". À noite insistiu, repetiu a pergunta, eu repeti a resposta e perguntei-lhe "gostas?". Ele disse "sim, são como as jewel pets". Ah? Eu sei que são uns desenhos animados, a que ele normalmente ele não dá grande atenção, e também por isso fiquei admirada com a comparação. Ainda perguntei se os jewel pets usam brincos, mas ele já não estava na mesma onda. Agora ocorreu-me que os bonequitos usam nas mãos uma espécie de varinha mágica que pode ser considerada parecida com os brincos e acho que só estou a escrever isto porque a minha vida às vezes parece um manicómio e ele hoje de manhã estava tão acelerado que me deixou zonza para o resto do dia. Fez corridas no corredor, tirou um sapato para enfiar lá dentro uma tosta, primeiro quis papa, depois quis as minhas torradas, depois as tostas, lembrou-se de fazer xixi quando já estavamos à porta do elevador, ele todo descontraído e saltitão, eu com não sei quantos sacos no braço, o da praia, o da roupa para vestir depois da praia, mais o boneco para ele adormecer, e o saco da minha comida, e a carteira, e acabei por me esquecer dos óculos porque tive de pousar tudo para ele ir à casa de banho, sempre aos saltos, sempre a mexer-se, hoje enquanto o vestia disse-lhe que ele parecia um barco, porque parecia mesmo, eu a tentar pôr-lhe o creme protetor e ele a navegar.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Coisas novas não!

O casaco era novo (3,99 nos saldos da Lefties) e ele não gosta de coisas novas. "Não quero, não quero!", "quero o outro", o outro foi para lavar, estava sujo, "mas eu quero!", mas não pode ser, enfiei-lhe o casaco com ele a espernear no chão, foi chorar pelo caminho, tive uma conversa sobre o assunto (parece que os outros miúdos adoram estrear coisas) com a empregada do prédio que encontrei à saída do elevador e depois lembrei-me que já no outro dia, quando ele nos viu a entrar na sapataria onde lhe comprei as sapatilhas que ele também não queria mas agora adora, atirou logo "não, não" e ia começar a fugir com a perspetiva de mudar de calçado, mas sossegou quando lhe disse "não é para ti, é para o pai".-

Tal mãe...

Sobretudo nos dias em que estou mais cansada, falo para ele e o que ouço é a minha mãe. As mesmas frases, os mesmos ralhetes e, sobretudo, o mesmo tom de voz. Assustador. Ele anda desde há algum tempo a responder com uma espécie de guinchos irritantes (nãaaaaaaaaooooooo!") que acho que são culpa minha.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

E porquê, e porquê, e porquê????????

Domingo, no Parque:
- O parque?
- Está aqui, filho, estamos no parque
- O parque?
- É isto, o parque é isto, tem árvores, relva...
- O parque?
- Sabes, há dois tipos de parques, os que têm baloiços e os que não têm. Este não tem.
(cinco minutos depois fomos embora e começo a achar que devia queixar-me a alguém pelo facto de a cidade do Porto não ter suficientes parques infantis com baloiços, que é desses que ele gosta)

Sábado, no Pingo Doce
- O meu gelado?
- Já vamos comprar, agora é preciso levar tomate, courgette, alface...
- E o meu gelado?
- Agora vamos ali aos iogurtes...
- E o meu gelado?
- O teu gelado vai ser a última coisa a levar, está bem?
- Sim... O meu gelado?
já na caixa:
- Este é o meu gelado?
- Sim
- É o meu gelado?
- Sim, é o teu gelado
- Este é o meu gelado?
- Olha, sabes, é o teu gelado, mas só vais comê-lo depois do jantar

Todos os dias:
- O que é ito?
- Não sei...
- O que é ito?
- É um ovo
- Não, o que é ito?

Em contrapartida:
À chegada do parque:
- Vamos ao parque comer um gelado?
- (ups) Não, sabes porquê? A mãe não trouxe dinheiro (não tinha mesmo). Noutro dia dou-te, está bem?
- Sim

Na sexta-feira:
- Posso comer gelado?
- Não, hoje é uvas (para a sobremesa), comes amanhã
No sábado, ao almoço:
- Hoje é gelado?
- Sim, vou buscar
E abro a porta do congelador e nada, tinham acabado.
- Olha, afinal não há, comes logo, pode ser?
- Sim
- (Ufa)

3 da manhã

Acordou eram 3h da manhã, quase quatro. Ouvi-o gritar mãe, mãe, peguei na garrafa de água que tinha ao meu lado e entrei no quarto dele. "Mãe, queres deitar comigo?". Eu ainda não tinha visto que horas eram, mas optei por um "não, a mãe não pode". Ele passou à vontade seguinte: "Posso ir para a cama da mamã?". Nem pensar, da última vez que passámos a noite juntos estiveste o tempo todo a dar-me pontapés e ias fugindo da cama num aparente ataque de sonambolismo sem precedentes. "Não, ainda é muito de noite. Dormes aqui e depois de manhã podes ir para a cama da mamã, sim?". Ele disse que sim, virou-se para o lado e adormeceu. E não, de manhã não foi para a minha cama, que eu levantei-me às 7h e ele ainda dormia.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Férias

Rumámos ao Alentejo logo no início das férias, ainda sem o abrandar do trabalho, do cansaço, das rotinas. Quando cheguei e vi aquele mundo cheio de nada para fazer, a televisão mínima só com quatro canais, os mosquitos carnívoros, as noites mais frias do que o esperado... pensei que talvez me fosse aborrecer um bocadinho. Até me atafulhei de revistas parvas, só por precaução, mas não foi preciso. Ao fim de dois dias já estava a pensar que não me apetecia voltar, que se estava bem era ali, naqueles dias em que a nossa maior preocupação era que o joão ficasse quieto para lhe pormos o protetor solar (e as birras, pronto, mas isso foi só um dia), em que tinhamos a companhia de um burro maluco por estendais, de duas éguas e um potro, quatro cães e um céu mesmo estrelado. Passo por férias como esta sempre com a mesma sensação: a de que não precisamos de muito, não precisamos de tudo o que temos, mesmo que nem tenhamos muito. Os quatro canais de televisão chegaram e sobraram. Comemos massa com frango ou frango com arroz nos dias em que fizemos refeições em casa. Levei meia duzia de peças de roupa e nem as usei a todas. O joão passou a andar o dia todo com a mesma roupa, porque por mais que lha mudasse ele sujava-se cinco segundos depois. E não me preocupei com arrumações e desarrumações, limpei a minha cabeça e fiquei muito melhor, mesmo no regresso. A rotina só agora está a começar e sinto-me bastante preparada para a enfrentar com mais descontração. Mas o que eu gostava mesmo, até porque a malta que está de férias não pára de mandar fotos de fazer inveja, era continuar de férias, ter aqueles três meses de pasmaceira que tinha quando era miúda, sentir que é Verão.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A fase do xixi já passou, passamos à seguinte

Já pede sempre para fazer xixi, mesmo quando está a entretido a brincar (excepção para o xixi que fez na semana passada na ikea, enquanto estava sentado num banquinho entretido na zona das crianças junto às devoluções/levantamentos/transportes, mas nesse dia não dormiu à tarde). Hoje, na escola, começa o desfralde da fralda da sesta, mas para o teste ser a sério era preciso que dormisse, coisa que não anda com muita vontade de fazer durante a tarde. O resultado varia entre birras sucessivas e uma energia dificil de acompanhar.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Desfralde

Ando obcecada com xixi. Já não são só os autocarros (olha, mãe, um autocarro! um autocarro! sim, filho, um autocarro... vamos ver se 'parecem' mais? sim, vamos... olha, outro! outro autocarro! sim, filho, um autocarro... e quando estou sozinha dou por mim a sobressaltar-me quando vejo um autocarro, como se tivesse de fazer alguma coisa... mas estou sozinha, não tenho de fazer nada, tenho é de estar quieta e calada para não pensarem que sou maluca). Estamos em fase de desfralde, há duas semanas. O primeiro dia foi muito mau, xixi de cinco em cinco minutos nas cuecas, no chão, no tapete, a sorte é que, como fazia muitas vezes, os estragos não eram muitos. Depois melhorou, esta semana teve dois dias em que saiu e entrou em casa com as mesmas cuecas, mas depois teve outros dois dias em que fez cocó e xixi nas cuecas (e no chão, e no tapete - de casa). Estou sempre a perguntar-lhe se quer ir à casa de banho, a levá-lo à casa de banho mesmo quando ele diz que não quer fazer nada, e depois quando a vontade lhe chega eu estou nos intervalos...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Eu, o miúdo e o mercado de trabalho…

Eu não quero trabalhar em casa. Já trabalhei, durante três anos, e não gostei. Sim, podia gerir os meus horários, mas o resultado disso era que tinha disponibilidade total, estava sempre a trabalhar, das 9h às 23h, com pequenas pausas para comer, às vezes uma pausa para a aula de yoga. Mas tinha ficado desempregada, trabalhava a recibos verdes e só uma das minhas funções era fixa, portanto só um determinado valor era fixo – e desse valor quase 400 euros iam à vida, para o IRS e para a Segurança Social. Não chegava para pagar as contas, tinha de trabalhar mais: passava horas a pensar em trabalhos e argumentos para os vender a sítios diferentes, fazia propostas, esperava respostas, depois acumulavam-se vários trabalhos ao mesmo tempo e eu dava o litro a todas as horas. Agora, com um filho, aquela vida seria impossível: às cinco horas tenho de o ir buscar à escola e com ele em casa não consigo trabalhar. Acho que também não gostaria de trabalhar em casa se fosse quadro de uma empresa, ou tivesse um contrato. Sentiria falta das pessoas e de sair daquelas quatro paredes. Isso asfixiava-me muito e agora, com um filho, acho que me asfixiaria ainda mais. Para além disso, quando trabalhava em casa dava por mim a encher máquinas de roupa ou a estendê-las nas pausas do trabalho e aquilo só me confundia ainda mais: era trabalhadora escrava e doméstica sopeira tudo ao mesmo tempo. Agora, com o trabalho doméstico duplicado pelo nascimento do miúdo (mais roupa para lavar e passar e o jantar para fazer em vez do “arranjo qualquer coisa em cinco minutos, logo se vê” – só para referir dois aspetos que não sejam reveladores da minha quase obsessão pela casa direitinha e arrumadinha que nunca consigo ter), o tempo extra para despachar a lida da casa até daria jeito, mas digo não, obrigada, não quero ser sopeira enquanto trabalho, prefiro ser doméstica só a partir das 17h em vez de o ser o dia todo, em simultâneo com o trabalho não doméstico.

Também não quero trabalhar a tempo parcial, a não ser que fosse um trabalho parcial com um ordenado igual ou superior ao meu, coisa que não me parece que exista. Mas gostava que existisse um verdadeiro mercado de trabalho a tempo parcial para ser possível optar. Talvez se tivesse um segundo filho precisasse dele. E aí a redução de salário poderia compensar, porque o tempo suplementar para tratar dos miúdos serviria para evitar a minha loucura e isso é muito importante – quando recomecei a trabalhar depois de o meu filho nascer foi muito duro, (não) imagino o que poderá ser com dois.

Horário reduzido, ou comprimido, sim, é o que eu tenho e não me posso queixar: trabalho das 10h às 17h, com meia hora para almoço. Sou flexível: às vezes entro mais cedo ou saio mais tarde, mas não muito mais tarde porque tenho de ser eu a ir buscar o miúdo à escola. Às vezes também trabalho depois de chegar a casa, mas fico numa pilha de nervos porque é muito difícil concentrar-me e ser rápida quando tenho o miúdo a fazer-me mil e uma solicitações, a chamar a atenção, a chorar, a dizer mãe quero isto, não, afinal é aquilo, a querer sentar-se no computador que eu preciso de usar. Mesmo quando não tenho trabalho para fazer em casa, não faço outra coisa senão trabalhar: vou buscar o puto, enfio-me na cozinha a preparar o jantar, deixo a coisa a marinar para tratar das roupas (meter na máquina, tirar do secador, apanhar do estendal, passar a ferro) e para lhe dar banho, acabo o jantar, jantamos, arrumo tudo, “desmaio” no sofá, o miúdo já está cheio de sono, deito-o, ligo as máquinas da roupa e da loiça (para aproveitar a tarifa bi-horária), fico feita parva a olhar para a televisão uns minutos e aterro na cama (não é sempre sempre assim, mas quase).

Se tenho o horário que quero (ou o melhor horário que posso ter), o que mais posso querer? Que deixem de me penalizar (nas avaliações, por exemplo, mas também no ordenado) por não ter disponibilidade total. Por não ser como a jovem colega que tem muito menos experiência, que até passa a tarde toda a olhar para o boneco, mas que está lá para o que der e vier na hora em que eu tenho mesmo de sair para ir buscar o puto. Eu já fui a jovem colega sem experiência com toda a disponibilidade do mundo e sei como é. Entretanto passaram-se anos, ganhei experiência, fui mãe e percebo – não só por ser mãe – que há outras coisas que têm de ser avaliadas. A pressão nem é muito grande e sei que eles sabem que dou o litro enquanto cá estou. Mas sei que, quando olham para mim, o que vêem é a lacuna de não poder dá-lo sempre.

Também gostava que a licença de maternidade fosse mais longa e que o mês de licença do pai fosse obrigatório e pago a 100 por cento. Para não haver pais com medo de o gozar porque acham que vão ser penalizados nos empregos, que vão ficar mal vistos, que já não vão ser promovidos, ou que vão ter avaliações negativas. E gostava que fosse possível regressar ao emprego que já se tinha com uma redução de horário superior às duas horas de dispensa para amamentação durante algum tempo, o tempo que fosse preciso para estarmos efetivamente aptas para regressar ao trabalho. O nosso empregador não tem culpa se o nosso filho não nos deixa dormir durante a noite, mas enquanto o bebé não aprende a dormir a sério nós não conseguimos ser tão produtivos e – acreditem – não é culpa nossa, é mesmo do sono. O horário comprimido que tenho é o horário normal na minha empresa. Em Espanha, diz-me uma amiga, as mães podem pedir redução de horário até os filhos fazerem oito anos.

Esta é uma tentativa de contributo para a tentativa de revolucionar para flexibilizar que anda a acontecer aqui.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Novo apelo revolucionário às mães

A Ernestina faz agora um novo apelo: no dia 17, expliquem o que precisam do mercado de trabalho para conseguirem conciliar a vossa profissão com os vossos filhos. Flexibilidade, tolerância, que cumpra a legislação existente, que tenha outra legislação? O movimento está a ficar sério e eu acho que se forem persistentes elas vão mesmo mudar o mundo.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sim, mãe, essa grande meiguinha

Desde há uns dias que me responde a tudo "sim, mãe" ou "não, mãe" e repete isto tantas vezes que às vezes está a responder ao pai e diz "sim, mãe". Ontem veio-me orgulhosamente mostrar um carro amarelo que anda lá em casa há meses para me dizer que era um mini. Eu respondi-lhe: "Ah, é o carro da Minie?". Depois mostrou-me o carro que tinha na outra mão e, meio atrapalhado e enrolado com os erres, lá lhe saiu "este é um ferrari" e eu fiquei com ar de parva "ah, o outro é um mini" e virei costas envergonhada para continuar a lavar a loiça. Na festa da mãe na escola manteve-se impecável no lugar mas não cantou nada (nem eu percebi grande coisa do que os outros cantaram, mas isso não interessa, nas festas as mães ficam parvas a olhar para os filhos e a sorrir para eles, não estão propriamente interessadas no espetáculo), mas à noite, em casa, repetiu vezes sem conta "gosto da mamã, é muito méguinha" e nunca na vida a palavra meiguinha me soou tão bem, tão linda.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A REVOLUÇÃO por UM MERCADO DE TRABALHO FLEXÍVEL continua!

A revolução de 28 de abril por um Mercado de Trabalho Flexível continua hoje, no pbx da Ernestina e no Revolucionar para Flexibilizar e no Facebook, no evento Revolução por um mundo de trabalho mais flexível. Ainda não pararam de chegar contributos. O meu texto está estupidamente na data de 21 de abril, porque foi quando comecei a escrever o texto. Pensei que, ao publicá-lo a 28 de abril, seria essa a data que assumiria, mas não - este blog é muito rebelde ou eu é que não sei mandar nele.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Chuac! O meu primeiro beijo

O dia do cocó (a experiência não voltou a repetir-se, eu sabia que estava a atirar foguetes cedo demais, mas tinha mesmo de o fazer) foi também o dia do beijinho. À tarde, depois de chegar a casa, vejo-o dar um beijo repenicado no peluche de estimação. Também quis um e ele deu. Ainda os dá de forma meio trôpega, e às vezes saem-lhe antes de chegar à cara da outra pessoa, ou não saem. Foram precisos dois anos e meio para ele aprender a dar beijos. Eu percebo agora que receber o beijo de um filho é uma sensação espetacular.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Cocó

Ainda estavamos os dois meios a dormir. O pai a mudar-lhe a fralda da noite para o vestir, eu a acabar de me arranjar para vir trabalhar. Ouço ao longe "vai lá ter com a mamã, que ela está na casa de banho" e de repente tenho o miúdo à minha frente sem fralda. Queres fazer xixi? Sim. Então anda lá. Não, qué fazê cocó. Pronto, então senta-te (no tom de quem acha que aquilo não vai dar em nada).
Já tinha pedido meia dúzia de vezes. Nunca fez nada. Só dois ou três xixis no pote. Na sanita, nada. Com o bom tempo que esteve há duas semanas, pensei que talvez devesse estar a começar o desfralde. Enquanto pensava, veio este tempo de menos calor (para não dizer algum frio, mas isso sou eu que sou uma friorenta) e chuva irritante. Mesmo assim perguntei qual era o plano do infantário relativamente a esta matéria para a qual ando a tentar, sem qualquer sucesso, sensibilizar a criança já desde o fim do verão do ano passado. Disseram-me que acham que ele está preparado, que entende muito bem o que lhe dizem, que quando vier o calor outra vez podemos avançar. Tenho tentado falar com ele sobre o assunto, mas sentia que estava a falar para uma parede. Ontem até mostrou alguma irritação quando comecei a falar de tirar fraldas e usar a casa de banho. Mas hoje lá veio, sentou-se na sanita e fez cocó (também fez xixi, mas ficou quase tudo no body, não sei se conta) e eu comecei a manhã, ainda antes de acordar verdadeiramente, toda excitada por causa disto.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Mulheres: Venha daí essa revolução!

Ponto prévio: Dadas as imprevisibilidades do meu trabalho, estou a escrever este texto antes do dia 28, em várias fases. Sim, eu escrevo posts no trabalho, porque em casa estou sempre com o meu filho, e quando estou com ele é difícil estar parada e impossível estar no computador. Às vezes também trabalho em casa, com o computador ligado, mas aí acho que tenho de aguentar os nervos de ter o rapaz ao colo a tentar alcançar as teclas ou de ter de lhe ralhar para me deixar trabalhar.


Mas, ao que interessa, ou seja, ao repto da Mãe que Capotou e à revolução de 28 de abril por um mercado de trabalho mais flexível.


Eu nem sei se devia estar a participar nesta revolução, mas a Ernestina foi tão convincente e persistente e gosto tanto de revoluções e nunca fiz nenhuma que me rendi.
Na verdade, não gosto muito de ouvir falar em flexibilizar o mercado de trabalho, porque associo a palavra à precariedade e já tive uma boa dose disso (ainda tenho - vou no terceiro contrato, não sei quantas renovações me esperam, ou se o que me espera é um pontapé no traseiro), mas considero que é preciso mudar alguma coisa.
Portugal é dos países onde as mulheres estão mais fortemente inseridas no mercado de trabalho, onde há menos trabalho a tempo parcial, onde elas tem jornadas de trabalhos das mais longas e onde elas passam mais tempo ocupadas com trabalho doméstico. O resultado disto não pode ser bonito. A maior parte de nós trabalha fora de casa a tempo inteiro, tem horários de trabalho exigentes e quando sai do trabalho continua a trabalhar em casa. Não pode ser bonito...
Precisamos de trabalhos a tempo parcial, para podermos escolher. Dizem que as mulheres querem estar no mercado de trabalho, mas que depois se angustiam por não estarem com os filhos. É preciso fazer alguma coisa, não tenho dúvidas - batalhar pelo part time é uma delas.
Eu acho que teria apreciado um part-time depois de o meu filho ter nascido, quando ele ainda era muito pequeno, acordava a meio da noite para mamar e eu andava a trabalhar zombie de sono e com as mamas duras como pedra. Mas arranjei um full time por conta de outrem quando ele fez quatro meses e foi a melhor coisinha que me podia ter acontecido. Depois do sufoco de estar dois anos a trabalhar solitariamente em casa como freelancer, de ter trabalhado das 9h às 23h grande parte dos dias, incluindo fins-de-semana, de ter descontado balúrdios para a segurança social, de ter de andar a preencher declarações do IVA trimestralmente, dei graças a todos os santos pelo full time, ainda que o miúdo só tivesse quatro meses, ainda mamasse e eu não tivesse tido coragem para falar em redução de horário para amamentação.
A verdade é que talvez tivesse apreciado o part time se a diferença para o salário que ganho (que não é nenhuma fortuna) não fosse grande, porque com menos do que isto seria muito complicado gerir as coisas. E, mesmo passando mais tempo em casa, não sei se encontraria um infantário onde pagasse menos se ele lá estivesse menos horas.
Não me posso queixar (muito) deste full time. Ganho menos do que mereço e do que seria justo para uma pessoa com os meus anos de profissão, mas o horário é simpático: das 10h às 17h, com meia hora para almoçar. Não me chateiam por aí além por ter de sair à hora a que o horário termina para ir buscar o meu filho, mas eu sinto-me pressionada todos os dias - como se todos os dias fosse avaliada a minha "falta de disponibilidade".
Antes de ter sido freelancer e de ter sido mãe, trabalhava em regime de horário total, sempre disponível, sempre a dar à casa as horas que fossem precisas, sempre disponível para trocar folgas e trabalhar nos feriados. Lembro-me bem que olhava "de lado" as mães que tinham de sair à "horinha certa". Agora estou eu no lugar delas e a revolução que eu queria era horários decentes para pais e mães, o fim dos olhares de lado para quem - sacrilégio! - tem família e tem de cuidar dela porque não tem empregada nem avós à mão de semear, e queria promoções à medida do esforço e da qualidade do trabalho em vez de promoções por conta do género, da disponibilidade ou do fazer de conta que não se tem família e filhos e que se está muito bem a trabalhar quase 24 horas por dia.
O meu marido tem um horário complicado, na maior parte dos dias sai à meia-noite, às vezes mais tarde, outras vezes mais cedo, mas nunca antes das 20h. Não é uma questão de disponibilidade, é mesmo uma questão da especificidade do trabalho. Ele adorava poder chegar a casa mais cedo, estar com o miúdo ao fim da tarde, jogar à bola, ir ao café, ao parque ou às compras como as "famílias normais" que ele vê quando faz uma pausa para lanchar e se angustia por saber que estou eu a dar conta de tudo sozinha e o miúdo está cheio de saudades à espera que ele chegue. Angustia-se ainda mais quando pode vir jantar a casa e depois tem de dizer ao miúdo que não podem brincar mais, que o pai ainda tem de ir trabalhar.
Se me fosse dada a oportunidade de trocar, com uma oferta do género: ele passa a trabalhar com um horário "normal" que lhe permite ir levar e buscar o miúdo ao infantário, tu passas a estar disponível para trabalhar as horas que quiseres ou que forem precisas e ainda tens direito a uma promoção que te vai chegar para - vejam só esta maravilha! - pagar a uma empregada para deixares de ocupar o teu tempo livre a esfregar casas de banho, aspirar, meter roupa na máquina, mudar camas, passar a ferro... Bom, então eu teria de dizer que a parte da empregada é realmente muito sedutora, mas não, obrigada. Eu mereço ganhar mais por aquilo que já faço, uma promoção para mais trabalho vai dar na mesma injustiça. E, essencialmente, digo não, obrigada, porque eu também quero acompanhar a vida do meu filho e não seria capaz de não estar presente.

Portanto, na verdade, a revolução que eu defendo é a mesma de que fala a especialista em Economia do Trabalho Maria do Pilar González no artigo "Profissão:mãe" da Notícias Magazine (o link para o artigo desapareceu): vai ter de haver uma mudança na reorganização da vida privada e familiar, porque a pressão que as empresas atualmente colocam nos seus empregados é insustentável. Exige-se total disponibilidade como se o trabalho doméstico não existisse, mas ele "existe, tem valor social e alguém tem de o fazer". Já que homens e mulheres trabalham fora de casa, devem partilhar o trabalho doméstico. Para isso seria preciso que os homens reivindicassem os seus direitos de paternidade e que as empresas achassem normal que eles os façam, defende a investigadora. Eu cá acho que era também preciso que as empresas deixassem de penalizar as mães que usufruem dos seus direitos de maternidade, mesmo achando normal que elas o façam.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O que é que vocês mudavam no mercado de trabalho, no vosso emprego, nos vossos patrões, nas vossas vidas?

O dia 28 de abril é para assinalar na agenda (a ver se não me esqueço): esta senhora vai assumir a coordenação daquilo que pode vir a ser uma revolução (basta querermos - estamos aqui, estamos quase a transformarmo-nos numa segunda geração à rasca). A propósito disto e disto, temos andado a discutir coisas de mães a tempo inteiro, trabalhos a tempo parcial e trabalho não remunerado. Está na hora de nos centrarmos no mercado de trabalho - qual seria o indicado às nossas necessidades de mulheres e homens e de mães e pais trabalhadores? Todos os contributos são bem vindos. Façam o favor de participar.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Homens, mulheres e trabalho doméstico

Eu não tenho tempo para me debruçar aqui sobre o assunto, mas está a haver um debate espetacular aqui e está aqui um relato que já não é atual mas vale a pena ler - a propósito do relatório da OCDE divulgado ontem que diz que as mulheres portuguesas gastam mais quatro horas por dia do que os homens portugueses no trabalho não remunerado (trabalho doméstico, cuidar das crianças, etc, ou seja, aquilo que não é pago e não é lazer). E este aqui também é interessante.

terça-feira, 22 de março de 2011

Tenho pena, mas não posso

Ela diz que é assim que nasce a vontade. Eu tenho vontade, é verdade. Mas não posso. Mas tenho. Ainda ontem olhava para ele maravilhada com as palavras novas, com a corrida muito mais desenvolta, com os versos que ele aprendeu para dizer na festa do dia do pai (não disse na escola, devido aquilo que se julga ter sido um grande acesso de mimo que o levou para o colo do pai-espectador, mas disse depois em casa: pai paizinho, brinca comigo, à bola ou ao pião). Olhava e pensava: ele é tão espetacularmente deslumbrante que tenho que fazer outro. Mas isso foi ontem, que o pai estava em casa, havia sobras de comida para o jantar, sopa feita, aproveitei para aspirar a casa e limpar o pó enquanto eles brincavam aos comboios e ainda lhes dei duas tarefas para me ajudarem. De resto, enquanto ele não for mais independente, sei que não serei capaz de levar dois à escola, trabalhar, ir buscar dois, levar os dois para casa, tirar os dois do carro, carregar os sacos, dar lanches, dois banhos, aviar jantares, deitar dois, tudo sozinha. O pai não está porque não pode, não porque não queira (se há alguém que queira, é ele). Mas não está. E eu sei que darei em doida se me meter nessa aventura (e ele também, porque eu doida fico insuportável).
No outro dia estive meia hora com uma bebé de dois meses no colo e isso bastou para lembrar a angústia de estar um dia inteiro com aquela trouxinha ao colo, sem conseguir parar para comer, para tomar banho, para ir à casa de banho, um dia inteiro de chorinhos, colinhos, fraldinhas, maminhas, arrotinhos, repetir tudo outra vez. Percebi que aquela angústia existe mesmo quando os bebés não são como foi o meu (isso dava para outro post, nem vale a pena explicar). E mesmo assim a vontade ficou cá. Só que não posso.

Não sei se repararam, mas já consegui pôr links para outros blogs.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Porque isto não é só um babyblog

E porque ando com muita vontade de contestar, protestar, gritar.

A Luta é Alegria - http://www.youtube.com/watch?v=pdEfYT5bMis

Parva que Sou - http://www.youtube.com/watch?v=_rgOFS7UZ2I

P.S Isto ficaria muito mais lindo se eu conseguisse pôr aqui os vídeos, mas continuo a não saber fazer links em condições. Agradece-se a eventuais leitores eventuais ajudas, que isto já começa a parecer mal.

Um rapazinho

O miúdo cortou o cabelo e eu olho para ele e vejo um rapazinho, já não é o bebé rechonchudo do ano passado, quando fez exatamente o mesmo corte mas não parecia tão grande, tão menino, tão crescido. É normal, tinha menos um ano. Agora tem dois anos e quatro meses e tamanho de três ou mais, fala imenso, diz coisas como "por favor" ou "posso comer", deixou de dizer tiás e tiássas para lhes chamar finalmente bolachas e eu estou com uma coisa que sempre achei que não ia sentir: saudades dele bebézinho no nosso colo, as mãos fofas de bebé, as pernocas gordas. O meu bebé cresceu e eu adoro as novidades de cada dia, cada palavra nova, a descoberta de novas brincadeiras, ele a pedir "quero brincar na praia" quando vê as fotografias das férias do ano passsado. A questão é que, depois da fase em que ele quase não fazia nada, em que o tempo parecia não passar e eu desesperava pelo momento em que ele andasse e falasse e fosse mais independente, agora parece que o tempo anda depressa demais e me foge todos os dias.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Cala-te!

É um miúdo amoroso e fofo, mas de vez em quando dá-lhe uns acessos de não sei o quê. Anteontem disse-me "chiu", a mandar-me calar. Ontem foi mesmo "chiu, cala-te!". Ninguém está, de facto, preparado para os desafios que as crianças podem colocar, a qualquer momento, quando menos se espera. Lembro-me de ouvir dizer que quando eles são pequenos e dizem disparates devemos ignorar, tadinhos, que nem sabem o que estão a dizer, o melhor é não valorizar. Acho que a explicação se aplicava mais aos palavrões, mas, seja como for, decidi atacar a questão já, frontalmente (na verdade nem tive tempo de decidir, reagi e pronto). "Não acredito no que estás a dizer. Isso não se diz à mãe e ao pai, não se diz, é feio, a mãe fica triste". Se calhar devia dizer que não se diz a ninguém. Mas depreendi que tivesse aprendido aquilo com outros miúdos, e nem me parece muito grave (se calhar é, mas não me pareceu) que diga "shiu" aos colegas. Mas à mãe e ao pai, com dois anos? Socorro!

Uma flor de princesa

Há uns meses, no cabeleireiro, ele olhou para um daquelas fotografias dos cabeleireiros, com umas meninas maquilhadas e uns cortes de cabelo fantásticos e disse: "olha mãe, uma princesa". Eu olhei e disse que sim. Mas fiquei a pensar: aquela mulher da fotografia era uma mulher normal, não estava vestida à princesa, mas era uma princesa, eu não. Na semana passada redimiu-se um bocadinho. Pus uma flor no casaco e ele disse, sem eu lhe perguntar nada: "Uau, uma flor de princesa". Agora, se vestimos alguma coisa fora do habitual, ele repara (ontem reparou antes de mim nas sapatilhas que o pai trazia) e diz "uau, que fixe".

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Não voltarás a contar histórias que são só dos dois

Depois de ter vindo para aqui dizer que "ah, e tal, quando era miúda não gostava que falassem de mim como se eu não estivesse presente e não vou fazer o mesmo ao meu filho" já fiz isso uma porrada de vezes, em casa e na escola - e é na escola, ou com pessoas menos intimas, que ele não gosta particularmente que eu faça aquilo. Não voltou a dizer que estava triste, mas hoje, ao deixá-lo na escola, fiz o que odiava que me fizessem e ao cruzar o meu olhar com o dele percebi que estava a envergonhá-lo, a deixá-lo desconfortável, e odiei-me por isso mas não desarmei, mantive o sorrisinho de mãe parva orgulhosa do filho a contar uma história que devia ter ficado na cumplicidade dos dois. Burra, burra, burra!

A economia pode ser boa conselheira (matrimonial)

A teoria económica de Adam Smith aplicada ao casamento. Achei que seria uma estupidez, mas depois de ler hoje no i pareceu-me interessante. Aqui fica o link para a versão original, do New York Times - http://www.nytimes.com/2011/02/13/fashion/13Cultural.html (até hoje ainda não aprendi a fazer links decentes no blogue)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Bricolage, parte II

Lá está: ontem, quando pensei em fazer um chapéu de chinês com uma cartolina, tudo me parecia simples (menos o sítio onde comprá-la) - enrolava a coisa e já estava, bricolage para cinco minutos, mesmo o ideal para mim. Mas hoje, que passei à porta de uma papelaria e entrei para comprar a cartolina, fiquei feita parva a olhar para aquilo: hum, isto não pode ser bem como eu pensava, na verdade não faço a mínima ideia como se faz um chapéu de chinês a partir de uma cartolina. Mas comprei-a. Duas folhas, aliás. Desconfio que daqui por dois dias estou a ir a uma loja comprar um chapéu já feito, porque destruí as duas folhas sem chegar sequer perto do tal chapéu que idealizei mas que não consigo concretizar.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Bricolage (ou nem por isso)

Eu até tenho algum jeito para trabalhos manuais, e algumas ideias, mas depois custa-me concretizar os projetos, não sei coser à máquina (nem tenho) e à mão as coisas ficam sempre com aspeto abandalhado. Em todo o caso, a coisa dá muito trabalho, é preciso tempo para ir à loja "x" comprar o tecido "y", ir à outra comprar os botões "xpto"... e eu não tenho tempo nem paciência. De maneira que praticamente só atravessei a rua e fui ali aos chineses buscar um fato de chinês para o joão vestir no Carnaval. Agora tenho de inventar um chapéu de chinês e acho que só isso, embora muito simples, me vai dar cabo dos nervos. Começa pelo facto de nem saber onde é que se compra uma folha de cartolina.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O João tá tiste

Parece-me que o João está a entrar no mundo dos sentimentos. Eu às vezes fazia-lhe cara feia quando ele começava a fazer birras, dizia-lhe "não faças isso que a mãe fica triste", mas ele nada. Depois, quando lhe ralhava por ter feito alguma asneira, começou a fazer carinha de arrependido e a dizer "obiaca" (obrigada) em vez de "desculpa". Passados uns tempos, quando não o deixava fazer determinada coisa e ele insistia, eu punha a cara nº 31, ele desistia, mas continuava a chorar e perguntava "o que foi mãe?", como quem diz "porque é que te zangaste, não te zangues, eu não fiz nada".
Até ontem: estava a dar um episódio do Pocoyo e o Pocoyo estava triste, o senhor que faz a voz off do Pocoyo até comentou "Oh, estás triste, Pocoyo" e o João constatou "o Pocoyo tá tiste". Respondi-lhe que sim, mas que já ia passar, o Pocoyo já ia resolver o problema (já não me lembro qual era, mas acho que foi porque a orquestra das bolas se pirou). Nunca me debrucei sobre o assunto, não sei o que se deve dizer nestas situações, mas hão-de aparecer-me casos bem mais bicudos e inesperados e não me resta senão fazer o melhor que sei. E o que sei é que prefiro assim a fazer de conta que não percebi ou a dizer "não, o Pocoyo não está triste". Julguei que o caso tivesse ficado encerrado e não pensei mais no assunto, mas hoje, depois de chegarmos a casa, ele veio ter comigo e disse "o João tá tiste". Eu pensei "oh valha-me Deus", perguntei porquê, ele não respondeu, imaginei que quisesse brincar.
À noite, ao telefone com a minha tia, contava-lhe eu alguns episódios do miúdo e ele voltou, com mais veemência: "O João tá tiste" - e cruza os braços e franze a cara de zangado e amuado ao mesmo tempo. Começo a perceber quando me diziam que depois, quando eles crescem, é que dão trabalho (e diz que depois, quando eles crescem ainda mais é ainda pior, sim, já sei). Antes assim: prefiro estas reflexões sobre como educar, esta descoberta diária dele a descobrir o mundo, do que a loucura do "mas o que é que devo fazer" do início, do cansaço do início, do choro do início, das noites sem dormir do início (se é que se pode chamar início a mais de 12 meses). E o que mais quero é que ele me diga o que sente, em vez de fazer como eu fazia, que ficava triste em silêncio.

Yes we can

Aos dois anos e três meses do miúdo, voltámos a deixá-lo a dormir em casa da avó, mas foi como se fosse a primeira vez (foi a terceira). Não fomos para fora da cidade, fomos só "sair à noite" pela primeira vez desde que ele nasceu. Jantámos com um grupo de amigos, à vontade, sem horas para começar ou acabar. Depois entrámos naquela discoteca onde passámos tantas noites da nossa pré-paternidade, e, é preciso confessá-lo, não foi bem a mesma coisa. A discoteca mudou e nós não ficámos fãs. Nem nós nem quase ninguém, que aquilo estava vazio como raramente a tinhamos visto. A verdade é que eu já estava k.o com o sono e já não me apetecia muito estar ali. Se calhar as coisas nunca voltam a ser como antes, o que não quer dizer que fiquem más - ficam diferentes. O que foi bom saber foi que sim, podemos voltar a fazer coisas que fazíamos antes dele nascer (como dormir até às 11h e mesmo assim acordar cansados).

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Nervos

Sempre fui uma gaja nervosa/enervada e sempre detestei isso, tal como sempre detestei que me criticassem os rompantes, que me mandassem ser menos impulsiva, que não dissesse tudo o que me vinha à cabeça porque nem tudo (ou quase nada) era agradável para os outros. Aos poucos fui cortando os meus impulsos, mas não sei se sou uma pessoa melhor ou pior por isso (se calhar sou melhor para os outros e pior para mim). Agora dou por mim a enervar-me e a ficar nervosa por causa dos impulsos do miúdo, porque ele é trapalhão e não pára quieto, e continuo a não gostar mesmo nada destes nervos, e muito menos de achar que devia ter continuado absolutamente tranquila quando estou na caixa do supermercado e tenho de passar a correr pelas pessoas que estão atrás de mim (e que vão ter de esperar por mim) para ir buscar o miúdo que decidiu explorar o espaço comercial de onde devíamos estar a sair, e ele diz que não, e atira-se para o chão e vem o resto do caminho quase a arrastar-se pelo chão. Depois, a meio do caminho, fico desesperada porque não consigo que ele perceba que não lhe posso dar colo, que levo os braços carregados de sacos e não posso mesmo, não é má vontade, filho, é que não consigo. E ele chora e foge, e depois de três ou quatro "joão, anda cá, não fujas, temos de ir para casa" em modo tranquilo tenho de lhe gritar, ele chora sentido porque lhe gritei e a mim apetece-me chorar por lhe ter gritado, por ser uma mãe histérica que grita com os filhos rua e no supermercado, por ser como aquelas mães que eu abominava quando ainda não era mãe. É isso que hoje em dia me irrita mais do que tudo - não ser uma mãe tranquila e paciente o tempo todo, sobretudo no meio da rua (isso e ainda não ter aprendido que as idas ao supermercado sozinha com ele não podem nunca ser longas e muito menos implicar compras que me ocupem os dois braços, sobretudo quando o carro ficou em casa).

Mexer os músculos

No sábado de manhã fui a uma aula de pilates. Pensei que não me ia apetecer, mas apeteceu-me, e muito. Não dormi tudo, acordei irritada, irritei-me a vestir o miúdo, que ele agora não pára quieto enquanto o visto e aquilo demora eternidades, não só por causa dele mas também por causa da quantidade de roupa que é preciso vestir-lhe. Depois dei-lhe a papa, aviei uma torrada para o pai e quando chegou a altura de comer a minha já estava atrasada e com muita vontade de fugir dali para fora, de não ter o miúdo agarrado às minhas pernas, de estar só quieta a apanhar aquele sol quentinho sem ninguém para me interromper. Podia ter fugido para uma esplanada, mas fui ao pilates, a ver se me passa a dor de costas. Cheguei mais cedo para um café e um bocadinho de sol, depois estive ali durante uma hora e meia a tentar fazer os exercícios, descansei mais do que trabalhei, mas sai de lá a tremelicar, a sentir músculos que nem sabia que tinha (e que ainda me doem) e a pensar "isto soube-me mesmo bem, é melhor do que ir às compras". Uma aula não dá para nada, mas foi o suficiente para me conseguir voltar a sentar como deve ser, em vez de me sentar toda curvada.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Saldos

A quem possa interessar avisa-se que a Lefties (o outlet da Zara) tem t-shirts de criança (manga curta e comprida) a 1,99 euros. Comprei onze, que o joão andava com várias pelo meio do braço e estava mesmo a precisar de renovar o stock.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A dois

Já tinhamos ido jantar uma vez os dois, desde que ele nasceu. Fizemos da coisa uma ocasião solene, com direito a roupa cuidada e olhos pintados, mas não correu lá muito bem. Também já tinhamos passado uma noite num hotel e até já tinhamos ido a Londres (duas noites). Mas nunca foi uma experiência tão libertadora como a de sexta-feira. Não vesti nada de especial para a ocasião, não me pintei, não imaginei uma coisa super romântica num sítio super in. Deixámos o miúdo na avó e fomos jantar ali ao lado, sem bebé, mochila do bebé, boneco do bebé, chupeta do bebé e o bebé sempre a correr para todo o lado. E só isso foi muito bom. Consegui comer tranquila, bebi à vontade, relaxei, não tive pressa, conversámos, rimos, libertei-me pela primeira vez daquele sentimento de "ainda agora estava mortinha por estar sem ele e já morro de saudades, estava bem era se ele aqui estivesse e para além disso nem sei bem como me comportar, agora que estamos só os dois". Estivemos só os dois, foi só isso, sem solenidades, e foi muito bom. Às vezes apetece-me ir mais longe e tirar a noite para dançar, mas por agora este apetite só me dá de manhã, porque à noite estou demasiado cansada.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Nem penses em trabalhar, dá-me atenção sff

O telefone tocou quando entrei no carro, acabada de ir buscar o miúdo ao infantário e de o enfiar na cadeirinha. Fui a falar no caminho todo até casa, a fazer um esforço monumental para tomar notas mentais do que me estavam a dizer (conduzir, falar ao telefone e tomar notas escritas ao mesmo tempo é impossível). Em casa, tive de ligar o computador, explicar-lhe que a mãe tinha de trabalhar, que quando acabasse o deixava ver os vídeos que ele gosta de ver. Não fez birra, mas agarrou-se às minhas pernas durante um bocado, até que desistiu e foi para o sofá. A dada altura voltei a pegar no telefone. Enquanto falava:
- mamã, onde tá a chupeta?
- não sei filho, procura
- mamã, onde tá a chupeta? não sei...
Levantei-me, tirei a chupeta debaixo das almofadas e dei-lha, enquanto continuava a falar. Virei costas e começou outra vez:
- mamã, a chupeta?
Já estava outra vez escondida debaixo nas almofadas. Não era ele que a perdia, era ele que a estava a esconder.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Esponja mágica

A arte foi-se da parede com a ajuda da esponja mágica (à venda em alguns supermercados). Aquilo não é mágico no sentido em que não é preciso esforço (tem de se esfregar), mas ver o antes e o depois, ainda por cima numa parede amarela, é melhor do que magia.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Arte

Não é um risco, são muitos. Mas também não é um desenho - o nosso rapaz fez arte na parede amarela da sala e estou com tanto medo do que poderá resultar de qualquer tentativa de a apagar que talvez o melhor seja aplicar uma moldura por cima e deixar estar.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

No universo do João

existem três tipos de sapatos: os sapatos tufa (pantufas), os sapatos da locha (galochas) e os sapatos do joaozinho (os outros, que não são pantufas nem galochas e tanto podem ser sapatos como botas)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Tempo para mim

- Pois, tem estes ombros e este pescoço em tensão, está tudo duro. Vou-lhe receitar estes medicamentos, mas temos de pensar no futuro. Devia fazer natação pelo menos duas vezes por semana. Como está em termos de tempo para si?
- Não tenho.

Arrumações

Fiquei com dúvidas na ficha de avaliação e hoje perguntei:
- Afinal ele participa nas arrumações ou não? Num sítio diz que sim, noutro diz que não...
- A educadora: é que uma é a arrumação da sala, a outra é arrumação matemática...
- Ah... E qual é que ele não faz?
- A da sala