terça-feira, 22 de março de 2011

Tenho pena, mas não posso

Ela diz que é assim que nasce a vontade. Eu tenho vontade, é verdade. Mas não posso. Mas tenho. Ainda ontem olhava para ele maravilhada com as palavras novas, com a corrida muito mais desenvolta, com os versos que ele aprendeu para dizer na festa do dia do pai (não disse na escola, devido aquilo que se julga ter sido um grande acesso de mimo que o levou para o colo do pai-espectador, mas disse depois em casa: pai paizinho, brinca comigo, à bola ou ao pião). Olhava e pensava: ele é tão espetacularmente deslumbrante que tenho que fazer outro. Mas isso foi ontem, que o pai estava em casa, havia sobras de comida para o jantar, sopa feita, aproveitei para aspirar a casa e limpar o pó enquanto eles brincavam aos comboios e ainda lhes dei duas tarefas para me ajudarem. De resto, enquanto ele não for mais independente, sei que não serei capaz de levar dois à escola, trabalhar, ir buscar dois, levar os dois para casa, tirar os dois do carro, carregar os sacos, dar lanches, dois banhos, aviar jantares, deitar dois, tudo sozinha. O pai não está porque não pode, não porque não queira (se há alguém que queira, é ele). Mas não está. E eu sei que darei em doida se me meter nessa aventura (e ele também, porque eu doida fico insuportável).
No outro dia estive meia hora com uma bebé de dois meses no colo e isso bastou para lembrar a angústia de estar um dia inteiro com aquela trouxinha ao colo, sem conseguir parar para comer, para tomar banho, para ir à casa de banho, um dia inteiro de chorinhos, colinhos, fraldinhas, maminhas, arrotinhos, repetir tudo outra vez. Percebi que aquela angústia existe mesmo quando os bebés não são como foi o meu (isso dava para outro post, nem vale a pena explicar). E mesmo assim a vontade ficou cá. Só que não posso.

Não sei se repararam, mas já consegui pôr links para outros blogs.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Porque isto não é só um babyblog

E porque ando com muita vontade de contestar, protestar, gritar.

A Luta é Alegria - http://www.youtube.com/watch?v=pdEfYT5bMis

Parva que Sou - http://www.youtube.com/watch?v=_rgOFS7UZ2I

P.S Isto ficaria muito mais lindo se eu conseguisse pôr aqui os vídeos, mas continuo a não saber fazer links em condições. Agradece-se a eventuais leitores eventuais ajudas, que isto já começa a parecer mal.

Um rapazinho

O miúdo cortou o cabelo e eu olho para ele e vejo um rapazinho, já não é o bebé rechonchudo do ano passado, quando fez exatamente o mesmo corte mas não parecia tão grande, tão menino, tão crescido. É normal, tinha menos um ano. Agora tem dois anos e quatro meses e tamanho de três ou mais, fala imenso, diz coisas como "por favor" ou "posso comer", deixou de dizer tiás e tiássas para lhes chamar finalmente bolachas e eu estou com uma coisa que sempre achei que não ia sentir: saudades dele bebézinho no nosso colo, as mãos fofas de bebé, as pernocas gordas. O meu bebé cresceu e eu adoro as novidades de cada dia, cada palavra nova, a descoberta de novas brincadeiras, ele a pedir "quero brincar na praia" quando vê as fotografias das férias do ano passsado. A questão é que, depois da fase em que ele quase não fazia nada, em que o tempo parecia não passar e eu desesperava pelo momento em que ele andasse e falasse e fosse mais independente, agora parece que o tempo anda depressa demais e me foge todos os dias.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Cala-te!

É um miúdo amoroso e fofo, mas de vez em quando dá-lhe uns acessos de não sei o quê. Anteontem disse-me "chiu", a mandar-me calar. Ontem foi mesmo "chiu, cala-te!". Ninguém está, de facto, preparado para os desafios que as crianças podem colocar, a qualquer momento, quando menos se espera. Lembro-me de ouvir dizer que quando eles são pequenos e dizem disparates devemos ignorar, tadinhos, que nem sabem o que estão a dizer, o melhor é não valorizar. Acho que a explicação se aplicava mais aos palavrões, mas, seja como for, decidi atacar a questão já, frontalmente (na verdade nem tive tempo de decidir, reagi e pronto). "Não acredito no que estás a dizer. Isso não se diz à mãe e ao pai, não se diz, é feio, a mãe fica triste". Se calhar devia dizer que não se diz a ninguém. Mas depreendi que tivesse aprendido aquilo com outros miúdos, e nem me parece muito grave (se calhar é, mas não me pareceu) que diga "shiu" aos colegas. Mas à mãe e ao pai, com dois anos? Socorro!

Uma flor de princesa

Há uns meses, no cabeleireiro, ele olhou para um daquelas fotografias dos cabeleireiros, com umas meninas maquilhadas e uns cortes de cabelo fantásticos e disse: "olha mãe, uma princesa". Eu olhei e disse que sim. Mas fiquei a pensar: aquela mulher da fotografia era uma mulher normal, não estava vestida à princesa, mas era uma princesa, eu não. Na semana passada redimiu-se um bocadinho. Pus uma flor no casaco e ele disse, sem eu lhe perguntar nada: "Uau, uma flor de princesa". Agora, se vestimos alguma coisa fora do habitual, ele repara (ontem reparou antes de mim nas sapatilhas que o pai trazia) e diz "uau, que fixe".