terça-feira, 26 de julho de 2011

Um galo, uma galinha e um ovo

Talvez para se sentir mais acompanhado, vem para a porta da cozinha enquanto estou a fazer o jantar. Atira-se para o chão, tira os sapatos, tenta calçar os sapatos, fala com o peluche como se estivesse a falar para uma pessoa e também faz de conta que fala pelo peluche (ontem o boneco dizia "estou tão feliz!", mas não consegui apurar porquê). Diz "mãe quero ajudar" e eu lá tenho de lhe dar um prato de cada vez para ele ir pousar à sala, parar o que estou a fazer para ver se o prato chega ao destino (até agora tudo bem, e fica tudo perfeitinho no sítio certo), abrandar o processo de retirar a loiça da máquina para ele sentir que me está a dar uma grande ajuda. Também se dá ao trabalho de percorrer os armários para fechar as portas e gavetas que deixei mal fechadas, mas quando não há nada para fazer ele segue-me os passos, saltarica entre as minhas costas e a minha frente, está sempre no meu caminho, resolve abrir e fechar as gavetas e os armários, pergunta "o que é ito" tantas vezes que já perdi capacidade de reagir, e ontem resolveu rodopiar até cair. Não andes à roda, joão, senão cais e magoas-te, olha que ficas zonzo, joão... PUM! Cabeça contra a ombreira da porta da cozinha, chorou, chorou, olha para isto, fizeste um galo. "Snif, snif, e uma galinha?". Sim, um galo, uma galinha e um ovo, essa cabeça está uma desgraça, não podes andar à roda.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O meu filho é um barco

Ontem não foi a primeira vez que usei brincos desde que ele nasceu, mas os brincos de ontem eram mais compridos do que o habitual e deviam ter um certo "je ne sais quois" que o fascinou. De manhã perguntou-me todo dengoso "o que tens?" e eu disse-lhe "são uns brincos". À noite insistiu, repetiu a pergunta, eu repeti a resposta e perguntei-lhe "gostas?". Ele disse "sim, são como as jewel pets". Ah? Eu sei que são uns desenhos animados, a que ele normalmente ele não dá grande atenção, e também por isso fiquei admirada com a comparação. Ainda perguntei se os jewel pets usam brincos, mas ele já não estava na mesma onda. Agora ocorreu-me que os bonequitos usam nas mãos uma espécie de varinha mágica que pode ser considerada parecida com os brincos e acho que só estou a escrever isto porque a minha vida às vezes parece um manicómio e ele hoje de manhã estava tão acelerado que me deixou zonza para o resto do dia. Fez corridas no corredor, tirou um sapato para enfiar lá dentro uma tosta, primeiro quis papa, depois quis as minhas torradas, depois as tostas, lembrou-se de fazer xixi quando já estavamos à porta do elevador, ele todo descontraído e saltitão, eu com não sei quantos sacos no braço, o da praia, o da roupa para vestir depois da praia, mais o boneco para ele adormecer, e o saco da minha comida, e a carteira, e acabei por me esquecer dos óculos porque tive de pousar tudo para ele ir à casa de banho, sempre aos saltos, sempre a mexer-se, hoje enquanto o vestia disse-lhe que ele parecia um barco, porque parecia mesmo, eu a tentar pôr-lhe o creme protetor e ele a navegar.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Coisas novas não!

O casaco era novo (3,99 nos saldos da Lefties) e ele não gosta de coisas novas. "Não quero, não quero!", "quero o outro", o outro foi para lavar, estava sujo, "mas eu quero!", mas não pode ser, enfiei-lhe o casaco com ele a espernear no chão, foi chorar pelo caminho, tive uma conversa sobre o assunto (parece que os outros miúdos adoram estrear coisas) com a empregada do prédio que encontrei à saída do elevador e depois lembrei-me que já no outro dia, quando ele nos viu a entrar na sapataria onde lhe comprei as sapatilhas que ele também não queria mas agora adora, atirou logo "não, não" e ia começar a fugir com a perspetiva de mudar de calçado, mas sossegou quando lhe disse "não é para ti, é para o pai".-

Tal mãe...

Sobretudo nos dias em que estou mais cansada, falo para ele e o que ouço é a minha mãe. As mesmas frases, os mesmos ralhetes e, sobretudo, o mesmo tom de voz. Assustador. Ele anda desde há algum tempo a responder com uma espécie de guinchos irritantes (nãaaaaaaaaooooooo!") que acho que são culpa minha.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

E porquê, e porquê, e porquê????????

Domingo, no Parque:
- O parque?
- Está aqui, filho, estamos no parque
- O parque?
- É isto, o parque é isto, tem árvores, relva...
- O parque?
- Sabes, há dois tipos de parques, os que têm baloiços e os que não têm. Este não tem.
(cinco minutos depois fomos embora e começo a achar que devia queixar-me a alguém pelo facto de a cidade do Porto não ter suficientes parques infantis com baloiços, que é desses que ele gosta)

Sábado, no Pingo Doce
- O meu gelado?
- Já vamos comprar, agora é preciso levar tomate, courgette, alface...
- E o meu gelado?
- Agora vamos ali aos iogurtes...
- E o meu gelado?
- O teu gelado vai ser a última coisa a levar, está bem?
- Sim... O meu gelado?
já na caixa:
- Este é o meu gelado?
- Sim
- É o meu gelado?
- Sim, é o teu gelado
- Este é o meu gelado?
- Olha, sabes, é o teu gelado, mas só vais comê-lo depois do jantar

Todos os dias:
- O que é ito?
- Não sei...
- O que é ito?
- É um ovo
- Não, o que é ito?

Em contrapartida:
À chegada do parque:
- Vamos ao parque comer um gelado?
- (ups) Não, sabes porquê? A mãe não trouxe dinheiro (não tinha mesmo). Noutro dia dou-te, está bem?
- Sim

Na sexta-feira:
- Posso comer gelado?
- Não, hoje é uvas (para a sobremesa), comes amanhã
No sábado, ao almoço:
- Hoje é gelado?
- Sim, vou buscar
E abro a porta do congelador e nada, tinham acabado.
- Olha, afinal não há, comes logo, pode ser?
- Sim
- (Ufa)

3 da manhã

Acordou eram 3h da manhã, quase quatro. Ouvi-o gritar mãe, mãe, peguei na garrafa de água que tinha ao meu lado e entrei no quarto dele. "Mãe, queres deitar comigo?". Eu ainda não tinha visto que horas eram, mas optei por um "não, a mãe não pode". Ele passou à vontade seguinte: "Posso ir para a cama da mamã?". Nem pensar, da última vez que passámos a noite juntos estiveste o tempo todo a dar-me pontapés e ias fugindo da cama num aparente ataque de sonambolismo sem precedentes. "Não, ainda é muito de noite. Dormes aqui e depois de manhã podes ir para a cama da mamã, sim?". Ele disse que sim, virou-se para o lado e adormeceu. E não, de manhã não foi para a minha cama, que eu levantei-me às 7h e ele ainda dormia.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Férias

Rumámos ao Alentejo logo no início das férias, ainda sem o abrandar do trabalho, do cansaço, das rotinas. Quando cheguei e vi aquele mundo cheio de nada para fazer, a televisão mínima só com quatro canais, os mosquitos carnívoros, as noites mais frias do que o esperado... pensei que talvez me fosse aborrecer um bocadinho. Até me atafulhei de revistas parvas, só por precaução, mas não foi preciso. Ao fim de dois dias já estava a pensar que não me apetecia voltar, que se estava bem era ali, naqueles dias em que a nossa maior preocupação era que o joão ficasse quieto para lhe pormos o protetor solar (e as birras, pronto, mas isso foi só um dia), em que tinhamos a companhia de um burro maluco por estendais, de duas éguas e um potro, quatro cães e um céu mesmo estrelado. Passo por férias como esta sempre com a mesma sensação: a de que não precisamos de muito, não precisamos de tudo o que temos, mesmo que nem tenhamos muito. Os quatro canais de televisão chegaram e sobraram. Comemos massa com frango ou frango com arroz nos dias em que fizemos refeições em casa. Levei meia duzia de peças de roupa e nem as usei a todas. O joão passou a andar o dia todo com a mesma roupa, porque por mais que lha mudasse ele sujava-se cinco segundos depois. E não me preocupei com arrumações e desarrumações, limpei a minha cabeça e fiquei muito melhor, mesmo no regresso. A rotina só agora está a começar e sinto-me bastante preparada para a enfrentar com mais descontração. Mas o que eu gostava mesmo, até porque a malta que está de férias não pára de mandar fotos de fazer inveja, era continuar de férias, ter aqueles três meses de pasmaceira que tinha quando era miúda, sentir que é Verão.