quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Um ano e um mês depois

Estou de regresso. Só agora, porque antes não havia cabeça para isto, só muito sono, tanto sono que o que sentia nem era sono, já era desorientação. Agora já durmo a noite toda, ou porque é o pai que lhe dá o leite, ou porque ele (como hoje) dorme oito horas seguidas. Ainda é (muito) cansativo, mas já nada se aproxima da loucura do dá de mamar, muda a fralda (às vezes muda a roupa toda), adormece, deita, vai tratar da tua vida a correr para ver se consegues descansar antes de ele acordar outra vez, deita-te, adormece, pronto, já está, acorda, dá de mamar, muda a fralda...
Foi difícil, muito difícil. Com o tempo a dificuldade vai-se esbatendo, mas eu acho que não quero esquecê-la, para não me tornar numa daquelas mães que diz que foi tudo muito fácil, que tudo passa muito rápido e deixa saudades e que o meu filho não dava trabalho nenhum, num discurso que deixa a vida das recém-mamãs parecer ainda mais difícil. Foi difícil, sim senhora, e ninguém me avisou o suficiente. A minha vida mudou, sim senhora, mas sou hoje uma mulher muito mais feliz. Faz-me falta dormir toda a manhã, pastar no sofá, fazer o que me apetece, sair à noite, ir ao cinema, comer sossegada, não ter mini-roupa para lavar e passar, não ter a roupa toda suja de leite e papa e sopas, não ter de pensar no que vai ser o almoço e o jantar? Faz. Mas a minha vida sem ele não era a mesma coisa, não tinha aqueles olhinhos brilhantes e marotos, não tinha aquele sorriso, não tinha aqueles abraços, não tinha aquele mimo.
Ele está lindo de morrer, é teimoso como tudo, dramático que só visto (chora mesmo, com as lagriminhas a correr-lhe pela cara vermelha da fúria) e sedutor (já sabe perfeitamente como me há-de deixar toda derretida e, na rua, dou por ele a fazer olhinhos a estranhos). Eu, apesar do cansaço, amo-o com um amor maior e isso faz de mim uma pessoa muito mais feliz.