terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Porquê?

Não sei se esta já é a idade dos porquês, mas o rapaz já tem alguns acessos de dúvidas persistentes, às quais é difícil de responder porque não se percebe bem a pergunta. A coisa é mais ou menos assim: "Ó mãe, poque é tapatapapa xipititi panda?", "Ó pai, poque é tipititi xapatapata pocoyo?". A noite de Natal passou-a a acordar de hora em hora com estas perguntas, e eu e o pai lá nos levantávamos atordoados para lhe meter a chupeta na boca, dizer-lhe para dormir e pedir aos anjinhos, ao Pai Natal e ao menino Jesus que ele adormecesse de vez (não resultou, foi assim até de manhã). Também está na fase das repetições exasperantes. Quando tinha cólicas e nos dava uma trabalheira desgraçada, a minha mãe assustava-me com os "porquês" e os "ó mãe" que haveriam de vir. Eu achava uma patetice, claro, mas agora fico doida com o eco na minha cabeça quando lhe dá aqueles ataques de repetição do "ó mãe... dassafwdgdrfgjksfd", "ó mãe... dsfdstsregsfdgsfd". Ontem à noite, enquanto lhe mudava a fralda e lhe dava os remédios para dormir, pedi ao pai para lhe aquecer o leite. Ele saiu do quarto disparado (o joão), colou-se ao pai e repetiu mil vezes (ou mais): "Ó Paulo, cecece cecece o leita!?".

Ao telefone

Eu estava na cozinha, ele na sala. De repente começo a ouvir:
- Tous! É o xoaozinho...
E aparece-me à frente com o comando da televisão no ouvido, a repetir "Tous! É o xoaozinho!", como se quem estivesse a ligar do outro lado do telefone imaginário não o estivesse a ouvir bem.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Ufa, já passou

Dos Natais da minha infância lembro-me de estar divertida à volta de uma mesa com braseira com o meu avô, a jogar ao rapa com pinhões e umas bolinhas de açúcar que acho que se chamavam confetis mas posso estar enganada (confetis eram aquelas coisas do Carnaval, não eram?). Lembro-me de acordar de manhã e correr para o pinheiro e para os sapatos que lá tinha deixado para descobrir as prendas, e depois correr para a cama dos meus pais para lhes contar o que tinha recebido. Acreditei no Pai Natal/Menino Jesus até ao Natal em que me deixei ficar acordada e ouvi o barulho dos adultos a tirar embrulhos dos sacos. Depois disso continuei durante muito tempo a gostar do Natal e das prendas, mas depois fiquei triste e agora todo o ritual me cansa - demasiada gente para pouco espaço, demasiada excitação de adultos e crianças, gente que falta e faz falta, demasiadas prendas, demasiada comida que não me apetece comer, a obrigação de estar muito feliz porque é Natal, a vontade de regressar a casa.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Desejos para 2011

Uma cama nova e uma empregada de limpeza, mas acho que aqui estou a entrar outra vez no domínio dos pedidos ao Pai Natal.

Decisões para 2011

- ser mais desarrumada e desleixada com a casa (a preocupação e a necessidade de arrumar está a transformar-se numa coisa muito obsessiva, tenho de começar a controlar-me sob pena de piorar, e a única solução para me controlar é optar pelo deixar andar)
- quando for possível, conseguir ficar a trabalhar até mais tarde sem me preocupar com a eventual falta que estou a fazer ao joão
- conseguir ir jantar fora com as amigas sem culpas porque o miúdo pode sentir a minha falta
- poupar, poupar, poupar, fugir dos shoppings e das compras a todo o custo, limitar os gastos ao absolutamente essencial

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Duende

O meu filho foi o "duenta" mais lindo da festa de Natal da escola, basicamente porque não consegui olhar para mais nenhum, nem para a coreografia, nem ouvir a música, só olhava para ele à espera que ele olhasse para mim, para lhe sorrir e acenar naquela figura ridícula que só as mães conseguem fazer.

A roupa

ainda vai mesmo dar cabo de mim: ontem à noite deixei fugir o estendal (daqueles que estão pendurados no tecto e que se vão levantando e descendo com a ajuda de umas cordas) e aquela coisa caiu em cima de mim, bateu-me nas costas, na cabeça e quase me ia partindo o nariz.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ressaca

Não saio à noite há séculos, sempre que vou jantar fora ou a casa de alguém faço por vir para casa cedo, não alinho em jantares de Natal, sou uma gaja tão caseira que até chateia. E hoje acordei de ressaca, não sei o que se passou, não sei se foi porque não parei até me ir deitar, mas estive semi-acordada a noite toda e acordei como se me tivesse deitado tardíssimo depois de beber uns valentes copos.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Querido Pai Natal:

Sei que já fiz vários pedidos, mas estive a pensar melhor e o que realmente preciso, o que realmente mudava a minha vida, era uma empregada doméstica. Não são precisas muitas horas, bastava que me passasse a ferro, que o resto eu faço. As horas da minha vida que desperdiço a meter roupa na máquina, a tirar da máquina, a estender, a apanhar do estendal, a meter no secador, a tirar do secador e a passar a ferro, essas horas são o que realmente me custa. Sinto que estou sempre às voltas com a roupa, que quando podia parar e brincar com o meu filho ando a arrastar cestos de roupa de um lado para o outro. Essas horas deixam-me triste, com rugas na testa, sem sorrisos para dar porque estou corroída por dentro do peso da tarefa que, ainda por cima, vou fazendo enquanto faço outras coisas (enquanto faço o jantar, enquanto o joão come, enquanto lhe trato dos mini-lanches de banana, cenoura, tomate e de tudo o resto que ele se lembra antes de tomar banho). Sei que pode ser difícil de entender, Pai Natal. Contado assim nem parece muito lógico que a tarefa incomode tanto, mas o que estou a dizer é verdade - eu seria uma pessoa muito mais leve se conseguisse tirar o peso da roupa de cima de mim. No fim do dia da mulher do ano passado ocorreu-me que, no ano seguinte, em vez de votos de Bom dia da Mulher e outras simpatias do género, o que eu precisava mesmo era uma máquina de lavar a loiça. Ela veio no pacote da casa nova e, embora esteja meia avariada, mudou a minha vida. Agora precisava disto, Pai Natal, mas nem sei se vais receber esta carta, porque a verdade é que ninguém lê este blogue e portanto estou só a escrever para mim mesma. Mas admitir o problema é sempre um primeiro passo para o resolver e, se não for este Natal, pode ser que seja no próximo...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Chega Dezembro e eu fico assim, com vontade de não fazer nada, de me encolher no sofá embrulhada numa manta até não poder mais, de só sair de lá quando estiver absolutamente farta, já moída de tanto descanso, e apenas me levantar para comer e fazer compras.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Popota

Tenho uma amiga que se lembra de mim quando vê a Popota. Ontem, enfiada no vestiário de uma loja a experimentar roupa enquanto entretia o meu filho com tostas, ele começou a dizer "Popota, Popota". Não sei se fique deprimida ou se me sinta bem porque a nova Popota até é uma gaja gira com uma certa elegância.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O pai?

Quando eles são pequeninos ficar sem marido é (para além das saudades) muito mau: não há ninguém com quem partilhar más noites, que são muitas e muito más, não há quem olhe por eles enquanto tomamos banho, não há quem pegue neles ao colo para nos afundarmos no sofá ou fumarmos um cigarro enquanto nos convencemos a nós próprias de que ainda existimos, apesar de só convivermos com um ser que pouco mais diz do que "da-da", apesar de estarmos desgrenhadas, cheias de papa e outros restos de comida, sem uma peça de roupa decente, apesar do buço que mais parece um bigode, apesar do cansaço. Quando eles começam a falar e a ter noção da vida à volta deles, ficar sem marido é (para além das saudades) igualmente mau, parece-me a mim, agora que se aproxima uma jornada de pelo menos quatro dias sem ele. Já o estou a ouvir (ao mais pequeno) a perguntar, vezes sem fim: "O Pai?". Ter de responder, durante todos estes dias "o pai foi trabalhar", sem conseguir explicar que ele volta na sexta feira e que sexta feira fica já ali ao virar da esquina (porque o miúdo ainda não tem essa noção do tempo) doi mais do que aqueles dias de quase loucura da solidão do primeiro ano.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Se não entendes, eu explico melhor

Estava eu na árdua tarefa de o sentar na cadeirinha e apertar-lhe o cinto por cima do monte de roupa que trazia vestido quando ele olhou para mim e disse "tásalo?". Eu esperei uns segundos a ver se decifrava a expressão e presumi que se estivesse a referir a um colega da escola. "Gonçalo? Sim, vais ver o Gonçalo". Ele também ficou em silêncio uns segundos, talvez a pensar "ó mãe, tás tola, não percebes nada" e voltou à carga: "chuva?". Eu disse "não, hoje não está chuva" e entretanto fez-se luz: "sim, está sol". No infantário a educadora explicou-me que todos os dias os faz ir à janela ver o tempo, para saberem se está chuva ou sol, e sorrimos as duas ao perceber que ele quis levar a resposta pronta de casa.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A minha lista de presentes de Natal

Tenho uma enorme lista de Natal na minha cabeça e só pode ser por causa da crise porque há anos que não me lembrava de tantas coisas que gostaria de receber:
- a cama (aquela, da Ikea, branca, romântica, linda)
- uma daquelas coisas para alisar o cabelo (não é um secador, mas seca e ao mesmo tempo alisa, presumo que seja um alisador, mas pelo que vejo nos anúncios também dá para fazer caracóis, coisa que eu não preciso)
- um ou dois cestos brancos destes: http://www.ikea.com/pt/pt/catalog/products/10087738
- um daqueles conjuntos de cestinhos de vários tamanhos da Ikea, gama Komplement (mais um conjuntinho não faz mal nenhum)
- um kispo preto (preciso mesmo, o meu está velhinho velhinho, a desfazer-se)
- umas camisolas de inverno quentinhas giras (acho que não gosto de nenhuma das minhas e a que comprei no ano passado e até era porreira está-me gigante, parece um saco)
- um passe-vite

O joão precisa mesmo (ele não sabe, mas precisa) de uma capa de edredon suplemente e de muitos pijamas quentinhos suplentes, porque está sempre a encher tudo de chichi (quem souber de umas fraldas potentes, tamanho XL, também se agradece, porque já experimentei de tudo e nada resiste).

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Comida, que bom!

Ele gosta muito de comer, mesmo muito, tanto que às vezes me assusta. Ultimamente dou com ele a palrar umas coisas imperceptíveis e, lá pelo meio, um "hum, que vom, manana (banana)" ou "hum, que vom, tinas (tangerinas)" e ainda "hum, que vóm, nanás (ananáz), "hum, que vóm, gumã (romã) e "hum, que vóm, sopa". Uns miúdos brincam às lutas, aos papás e mamãs, à bola... o meu brinca às comidas.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

2 anos


Chorou quando chegaram os primeiros convidados, mas depois ficou todo feliz. Riu muito, brincou muito, deu muitos pulinhos de satisfação, foi uma grande alegria vê-lo todo contente com a festa. Roubou batatas fritas do prato do primo, comeu carninha e bolo de chocolate e enfartou-se de gelatina com uma satisfação que só visto. A casa estava cheia (mesmo cheia) e o barulho e a confusão chegaram a parecer-me infernais. Mas quando todos se juntaram para lhe cantar os Parabéns (bem cantados, com força, ritmo e alegria) e ele ficou com aquele sorriso a olhar para o bolo do Mickey, eu pensei que não havia nada melhor do que aquilo - a família e os amigos todos juntos, a celebrar o meu menino.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Senta, mãe!

Ainda não diz frases completas e ainda palra muito em chinês, mas já fala imenso. Diz "oh, mamã!" com a entoação de quem pensa "fizeste asneira", está sempre a pedir "senta, mãe... bincar", quando quer companhia para brincar e de vez em quando dou com ele a cantar "Tatacão (D'Artacão)... petíiiitos (julgo que seja "perigos"). De manhã, quando entro no quarto, diz "bô dia" e quando lhe damos alguma coisa para a mão ele agradece com "biá".

Dois anos, dois bolos

Ele faz amanhã dois anos e se há dois anos me dissessem que eu me ia pôr a fazer bolos (a ideia começou por ser fazer um para levar para o infantário, mas já vou em dois, para depois lhe cantarmos os parabéns em casa, à noite), eu teria dito "nã, vou mudar muita coisa, mas não me vou meter nos bolos, compro na pastelaria que é muito mais simples". Mas eu não fazia ideia do que ia mudar, não fazia mesmo. E, se a coisa correr bem logo na cozinha, fazer o bolo em casa será muito mais simples do que ir com o saltarico encomendar um bolo a uma pastelaria cheia de movimento para, uns dias depois, voltar a pegar no saltarico, entrar outra vez na pastelaria cheia de movimento e transportar o bolo e o saltarico.

domingo, 24 de outubro de 2010

Domingos

Trabalhar ao domingo pode ser mesmo muito deprimente, sobretudo quando nem sequer estamos a trabalhar, só temos de estar aqui e já esgotámos os jornais, as revistas, os blogs, os sites... Sobretudo quando está um frio de rachar nesta sala e nem com o casaco vestido e uma écharpe bem enrolada no pescoço isto se torna suportável. Sobretudo quando o resto da família está em casa à nossa espera e quando tudo o que nos apetecia era lá estar, enrolada numa manta.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O miudo mudou de cama

e eu é que caí da minha, esta noite. Queria levantar-me para ir à casa de banho e deslizei, fui bater com a anca no chão. Ainda me doi.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Folhado

Ontem sugeri ao P. que fizesse um folhado daqueles que ele faz muito bem, que me estava a apetecer muito e ele disse que sim, que ia pensar. Hoje ao pequeno almoço reparei que ele acrescentou massa de folhado à lista das compras. Nham nham!

Más noites

Agora andamos na fase dos terrores nocturnos. Acorda a chorar inconsolável, parece que não nos reconhece, esperneia, não nos quer, chora, chora, até passar. Muito mau.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Luz

E agora? Há duas tarifas bi-horárias à escolha e eu não sei será melhor. Numa delas só poupo durante a semana se puser as máquinas a trabalhar a partir da meia-noite, o que é uma grande canseira - a essa hora já estou deitada, e mesmo para o P., que se deita mais tarde, esperar que a máquina acabe de lavar para estender a roupa ou metê-la no secador não me parece boa ideia, senão o desgraçado passa a noite na lavandaria. Ou seja, não trataria da roupa durante a semana, só aos fins de semana. Na outra tarifa dá para poupar todos os dias a partir das 22h, mas isso significa que mesmo ao fim de semana só podia tratar da coisa a partir dessa hora... e que para passar a ferro nunca aproveitaria a poupança (não, não vou passar a ferro depois das 22h, a essa hora estou mais que morta). Podia ser simples, isto de querer poupar e ser ecológico e eficiente e essas coisas...

Apetece-me

marmelada, e compota de abóbora com queijo fresco. O Outono chegou-me ao estômago. O que vale é que não tenho nada disso aqui, nem em casa, nem sou gaja de ir ao supermercado comprar nada disto, porque o que me apetece é marmelada e compota caseiras. Menos mal, que assim estes desejos de mudança de estação não me pesam na balança.

Não tenho um, tenho três

Três filhos, ou quase - desde que, para evitar as birras do João, tive de começar a tratar o gato-peluche melhor amigo dele e o Mickey-peluche segundo melhor amigo como se fossem meus. Para lhe dar banho, para o vestir de manhã e para lhe mudar a fralda (e para o mais que se vier a revelar útil), tenho de fazer de conta que dou banho aos bonecos, que visto os bonecos e que lhes troco a fralda. Ele fica todo contente com aquela farsa, põe-se logo em bicos de pés a dizer "oão", como quem pede "agora eu, agora eu". Hoje, depois de eu ter fingido que tinha mudado a fralda aos dois bonecos e que dali vinha um grande cheirete, ele deitou-se e disse "mitéi, cocó, pfff".

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Burocracias

Tento avisar o banco que mudei de morada, para a correspondência que me enviam mensalmente não continuar a ir para a morada antiga e sabe-se lá para que mãos. Dizem-me por telefone que a alteração tem de ser feita pessoalmente num balcão do banco. Tudo bem. Mas dizem-me, também, que terei de levar como comprovativo da nova morada uma conta da luz, da água ou a carta de condução. Que são estes os documentos exigidos pelo Banco de Portugal. Carta de Condução? Porque não o BI ou o cartão de cidadão? E se eu não tiver carta de condução? E conta da luz e da água? Então e o contrato de arrendamento não serve?

Ah, e uma declaração de rendimentos também dá, pois claro.

Festa

Já fizemos dois jantares para os amigos na casa nova e o segundo teve direito a copo de vinho entornado na mesa. Já tinhamos jantado, mas ficámos ali a conversar. O João quis regressar à cadeira da papa (não lhe fosse escapar alguma coisa que estivessemos a comer) e entreteve-se a limpar a mesa com uma toalhita. Tanto quis limpar que levantou a toalha para limpar melhor e lá se foi o copo... a toalha ficou numa miséria, um dos assentos brancos das cadeiras nova tem agora umas pintinhas nas quais achei melhor nem mexer, não fosse aquilo espalhar. Ele fica todo contente com as visitas, todo vaidoso a mostrar o quarto novo, e aprendeu a dizer "bincár" (antes, quando nos queria pedir para brincarmos com ele, era um bocado mais tirânico: "senta!"). Nós estamos felizes por nós e por ele e a casa já parece mais nossa (até porque já está mais desarrumada - antes parecia uma casa muito direitinha e perfeitinha onde não vivia ninguém).

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Complicómetro

Primeira noite em que o barulho da VCI me incomodou. Não sei se foi do vento, que tornava o barulho diferente. Ou se era de mim. Porque a dada altura o barulho continuava (nunca pára) e já não era isso que perturbava, era a minha cabeça, sempre a pensar, em tudo, a ir buscar coisas que pensava que nem tinham importância, a pensar, a pensar, a querer descansar e a não conseguir, a achar que sem aquele barulho seria mais fácil desligar, apagar, ir para longe, fugir. Se pudesse nascer outra vez e mudar alguma coisa em mim, eliminava o complicómetro.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Birras

Ontem, depois do trabalho, fui buscá-lo. Antes de ir para casa, paragem no supermercado para ir buscar pão e peixe fresquinho para o jantar. Da última vez que lá fomos, ele até se distraiu a olhar para os "pixus", mas, desta vez, os grandes estrategas de marketing do supermercado tinham ali colocado uma banquinha de livros infantis. E assim começou o "João, anda cá", "Não mexas nos livros", "Deixa-te estar quieto", "Não saias daqui", de tal maneira que quando a empregada perguntou se eu queria que partisse os filetes em dois ou em quatro, tive de lhe responder "Faça como achar melhor" - estava sempre a olhar para ele, mal consegui olhar para os filetes. Na caixa, novo filme, ainda pior: "João, deita-te estar aqui", "João, não fujas", "Olhe que ele vai entalar os dedos", e ele a rir-se, aos saltos, a sair e entrar das várias filas da caixa, a entrar e sair de um fogetão daqueles onde se mete as moedas, as empregadas já a olhar para mim cheias de pena, uma até lhe ofereceu um copo com bonecos a ver se ele parava, alguns clientes a torcer o nariz de reprovação. Para sair de lá, nova crise: eu a dizer vamos embora, ele a querer continuar a pular por todo o lado, como se o supermercado fosse o maior e mais fixe parque de diversões do mundo. Lá lhe disse que iamos procurar o carro e ele interrompeu a ameaça de birra. Junto ao carro, estacionou na porta da frente, a mão colada no puxador que ainda não consegue puxar, eu cheia de sacos, a pedir-lhe para sair, para me deixar pousar as coisas. Pedi meiguinha, pedi com voz firme, e o gajo nada. Pousei os sacos e tirei-lhe a mão do puxador - atirou-se para o chão a chorar, por sorte não aterrou numa poça de água. Em casa a mesma coisa para tomar banho, para comer a sopa, porque não havia banana, porque não queria mudar a fralda antes de ir para a cama.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Paciência

Às vezes falta-me paciência, eu sei que falta. Fico cansada, com sono, muita coisa na cabeça e falta-me a paciência. Outras vezes ele tira-me do sério, mas sei que há alturas em que ele faz tudo para me tirar do sério e eu não perco a paciência, portanto o problema é meu. Depois fica a culpa, o peso na consciência, a vontade de nunca mais me encher de nervos, me irritar, falar mais grosso, mais alto, ralhar-lhe num tom enervado e semi-descontrolado que me faz lembrar a minha mãe - que é o que ainda me deixa mais culpada, porque odiava quando ela me falava assim e fico a odiar-me por estar a repetir a asneira. Ser uma mãe imperfeita é a mais angustiante das imperfeições.

Já está

Já estamos na casa nova. Na sexta-feira houve uma maratona de transporte e arrumação de caixotes, no sábado conseguimos arrumar quase tudo, no domingo mais um bocadinho, segunda ficou tudo pronto e ontem levaram-se os últimos caixotes de plástico (vazios) para os arrumos. Já está tudo direitinho, temos uma mesa nova toda bonita, um micro-ondas e uma tostadeira novos (os velhos pifaram), no domingo comprei flores no Pingo Doce, ontem chegou um secador de roupa que quase parece uma bimby (não sei mexer naquilo e possivelmente nunca conseguirei usufruir totalmente de todas as suas funções). O nosso quarto é um quarto de tamanho normal mas o outro era tão pequeno que este parece enorme, o quarto do João ainda me parece desarrumado, mas pode ser porque é mais do dobro do antigo. Estamos na casa nova e, embora me irrite o barulho da VCI, parece-me que esta desvantagem compensa largamente as desvantagens da outra casa (o soalho velho sempre a ranger, as paredes com humidade, o frio, as máquinas da roupa no pátio a obrigar-me a andar ao frio e outras coisas que nem é bom lembrar). Mas não sei se é porque tive pouco tempo para gozar as novas instalações, porque andámos tão embirrados que nem uma garrafa de vinho ou de champanhe abrimos para celebrar, porque não fizemos uma jantarada para os amigos ou porque a zona é tão diferente que ainda nem me lembro que agora tenho tudo ali bem perto, mas ainda não sinto bem a casa como minha e isso é um bocado estranho.

sábado, 25 de setembro de 2010

Antecipações

Nós não estamos só a fazer uma mudança, estamos a fazer duas (três, se contarmos com o infantário do joão) - a nossa e a da mãe do P. Andamos, portanto, a tratar de duas casas, dois contratos, dois senhorios, duas chaves que tardam em chegar, dois conjuntos de caixotes, um subsídio. É muita coisa em que pensar, tanta que às vezes nem consigo dormir à noite (imagino que o P. também não, embora ele já esteja mais na fase em que aterra profundamente de tão cansado).
O problema é que o meu pior defeito (ou o que mais me prejudica, porque me causa angústias imensas e bastantes chatices a quem me rodeia) é que tenho o hábito de criar inquietações a mim própria: em vez de esperar que as coisas aconteçam, desenho-as na minha cabeça por antecipação, com muito tempo de antecipação - ainda não tinha começado a encaixotar e imaginava como ia encaixotar, agora que já encaixotei quase tudo começo a adivinhar a mudança propriamente dita, quais os caixotes que vão entrar primeiro, para onde deve ser encaminhada a mobília, etc.
E assim, no meio de tudo isto, ontem tentei explicar ao P. que mal acabe esta saga da mudança temos de começar a pensar na IPSS para onde eventualmente poderemos mudar o joão no próximo ano, de maneira a garantir-lhe a entrada na escola básica "x" que diz que é muito boa, até porque é essa que garante a entrada directa na secundária "y" que também é uma maravilha. Ele disse-me que sim, que tinhamos de pensar nisso, mas depois. Aceitei um bocado a contragosto, mas hoje parece-me mesmo muito ridículo que tenha ocupado a minha cabeça e a dele com este assunto, sobretudo porque o joão ainda não fez dois anos.

D' Artacão

De manhã, quando acordamos, a televisão está ligada nos canais de notícias e ele costuma ficar atento a olhar, como se estivesse mesmo interessado (também acompanhou com atenção os Gato Fedorento e as suas entrevistas políticas na campanha para as legislativas, de tal maneira que, juntando estes dados ao seu ar sério, a senhora do infantário onde ele anda lhe passou a chamar "O Deputado"). Hoje estava a dar a revista de imprensa e no ecrã aparecia o Público. Ele olhava atento, apontou e disse "Ca-tão". Levantei os olhos do iogurte que lhe estava a dar e percebi que tinha reconhecido o D' Artacão (o jornal hoje vem com um DVD e o boneco animado aparece na capa).

Mudanças

Já perdi a conta ao que foi para o lixo: bibelots partidos, fritadeiras da La Redoute que não se conseguem lavar, latas enferrujadas, cremes fora da validade, cremes que não uso, verniz das unhas seco em frascos com décadas, botas cheias de mofo e bolor, frigideiras no mesmo estado, pratos partidos... Também pus umas tantas coisas de lado, para a minha sogra que ficou sem casa e vai ter uma nova: copos, muitos copos, panos de cozinha, almofadas, toalhas de mesa, vasos, baldes, açucareiros, travessas, suportes para guardanapos e já nem sei mais o quê. O resto está quase todo em caixotes e, mesmo assim, o resto é mesmo mesmo muito. Estamos a gerir o tempo que falta para a mudança com menos de meia dúzia de pratos e copos, muita da roupa já está guardada, o calçado quase todo também e a única coisa que já estava encaixotada de que precisei foi uma lâmpada. Pergunto-me todos os dias como é que acumulamos tanta tralha e porque é que precisamos de tantas coisas que não usamos mas que um dia podem fazer jeito. É que se isto já dá um trabalhão desgraçado a tirar do lugar e encaixotar, nem quero imaginar o que vai custar arrumar tudo no sítio.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Forte

De manhã, ao vesti-lo, entretem-se a tentar espremer uma embalagem de halibut. Quando consegue, diz "fóote" (forte).

No carro, a caminho do infantário pergunto-lhe quem é fofo. Ele estica-se todo na cadeira e diz "fóote".

O meu filho deve achar que é o super-homem.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sopa passada

Outro dia, num restaurante de um shopping:

- Queria uma sopa passada
- É canja
- Ok, pode ser
sentados na mesa, à espera da canja que o empregado disse que levava mas que nunca mais chegava, ouço o barulho furioso de uma varinha mágica
- Não acredito, o homem está a passar a canja!

Estava mesmo. E não fui eu que não fui suficientemente explícita, que já me aconteceu responder da mesma maneira a outros empregados e nunca nenhum se tinha lembrado de tal coisa. E há uma razão para se aceitar que a canja não seja passada - é que aquilo fica mesmo uma mistela intragável.

E agora?

No dia 1 do infantário 2 as educadoras tentam distraí-lo para eu sair sorrateiramente (para depois ele desatar a berrar quando perceber que me fui embora) ou digo-lhe, como sempre, "a mamã tem de ir trabalhar", vejo-o desatar aos berros e venho-me embora de coração apertado?

Ontem fomos lá com ele, fazer o reconhecimento do terreno. Esta noite não sonhei só com as mudanças, sonhei também com a educadora dele. Já não me lembro o quê. Só sei que acordei às 3h com um pesadelo estúpido, onde voava de carro pelo Porto enquanto conversava sobre coisas da maternidade com uma amiga e choquei com um Zepelin na zona de Massarelos.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Educação

Concluo, depois de um dia de muitos nervos, que o que realmente me está a deixar muito nervosa é a mudança de infantário do João. Porque apesar do preço me parece um infantário mais pipi do que aquele onde ele estava e as coisas pipis deixam-me nervosa. Porque tenho medo de que não o consigamos pagar e que, daqui por um ano, tenhamos de voltar a andar à procura, a bater a todas as portas, a perguntar por horários, a fazer contas e mais contas. Porque tenho medo de não tomar a opção certa, de não escolher a escola certa, de não ter dinheiro para a escola perfeita, de não ter horário para qualquer escola. E porque ele vai mudar e eu estou angustiadinha que ele estranhe, que se sinta triste, que não goste dos amiguinhos e que fique lá o dia todo ansioso, à espera que o vá buscar, porque ainda não me esqueci daqueles olhos vermelhos de tantas lágrimas de um dia todo a chorar no primeiro dia do primeiro infantário, a uma semana de fazer quatro meses.

Esta mudança

está a dar tanto, mas tanto trabalho, que acho que deviamos ter mudado já para um T3, para antecipar necessidades futuras. É que no meio desta trabalheira toda não me consigo libertar da ideia de que quero mesmo ter mais um filho (e quanto mais penso nisso menos sentido faz - se mal consigo aguentar as coisas só com este, de onde vem esta vontade?).

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Quatro dias com um bicho muito forte e muitas (mesmo muitas) músicas do Mickey

Três dias em casa (cinco, se contar com o fim-de-semana) com o João doente e ainda ouço as músicas da Casa do Mickey Mouse a martelar-me na cabeça. E a angústia, aquela angústia de "será que ele vai piorar, será que não melhora, o raio da febre não desce, espero mais um bocado ou vou outra vez ao médico?"... acho que ainda não superei. E até tive oportunidade de libertar os nervos, quando o pediatra me disse que era melhor esperar mais um dia, que ele até estava bem disposto, que não devia ser nada, que se a febre não cedesse fazíamos análises e eu desatei num pranto tão parvo tão parvo, que quanto mais pensava que era parvo mais chorava. Também ainda não recuperei da angústia de ter voltado a dormir aos pedaços, porque acordo com o choro dele e depois percebo que ele está a dormir, eu é que estava a sonhar.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Crise

Ontem, nos intervalos do trabalho, tive de ler o contrato de arrendamento, mandar um mail ao senhorio a acertar os últimos pormenores, preencher a ficha de inscrição do joão no novo infantário, pagar a inscrição, mandar mail ao infantário, ligar para a Clix, a Zon e o Meo depois de consultar os respetivos sites, ver preços, serviços, escolher, contratar o serviço, e ainda despachei três textos numa hora. Saí atrasada, passei pela mercearia para comprar pão, cenouras, bróculos e cebolas, e ainda trouxe duas caixas para as mudanças. Fui buscar o joão, fomos para casa eu, ele, as caixas e as compras, liguei-lhe a televisão, descongelei o peixe, cortei os legumes, fui empacotar, primeiro na cozinha depois no quarto, apanhei a roupa, meti roupa na máquina, passei a ferro porque o miúdo já não tinha t-shirts para vestir, interrompi para lhe dar banho, dei-lhe banho, vesti-o, meti o peixe a grelhar, liguei outra vez o ferro para passar o vestido para o casamento de amanhã, fui espreitar o peixe, acabei de encaixotar, dei o jantar ao joão, comi, lavei a loiça. Estava a acabar de limpar o chão da cozinha quando a máquina acabou de lavar, fui estender a roupa, sentei-me no sofá e o P. chegou. Primeira pequena crise já não sei exatamente porquê, mas basicamente foi porque estava demasiado cansada e impaciente. Mudei a fralda ao joão (fiz questão, não sei porquê) e ele deu-lhe o leite. Sentei-me no sofá outra vez a tentar desligar. Depois veio o P. tentando sensibilizar-me para o problema de um amigo e eu já não conseguia pensar em nada. Acabei a noite em lágrimas, de nervos e de cansaço, como se a minha cabeça já não conseguisse suportar mais informação. Hoje tenciono chegar a casa e não fazer nada a não ser depilar as pernas e estar com o joão.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O armário dos livros

O joão é um pestinha (sim, as birras voltaram, mal voltámos à rotina), mas no infantário a única queixa habitual diz respeito à sesta - é o último a adormecer, dá voltas e voltas na cama, é o primeiro a acordar, começa logo a palrar e dorme sempre pouco. Ontem, pelos vistos, enfiou-se no armário dos livros quando chegou a hora de deitarem os meninos. Quando a educadora me contou, ele pôs um sorriso de quem sabe que fez asneira mas até está orgulhoso da ousadia.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Ansiosa

outra vez, mas de uma ansiedade boa, assim um nervoso miudinho, porque logo vamos outra vez ver a possível casa nova e possivelmente tomar uma decisão.

oao

É oficial. Ele já diz o nome dele. Possivelmente já dizia há algum tempo, sempre que perguntavamos "quem é este" e apontávamos para ele. Mas João dito sem "jota" e sem til fica assim uma coisa estranha - oao. Por isso é que acho que ele já dizia há algum tempo, mas ninguém percebia, parecia mais uma chinesada. Como não percebiamos não lhe diziamos "muito bem" que é o que é preciso para estimular os miúdos, e ele desistia, ficava a olhar para mim calado, como quem diz "mas o que é que tu queres?". Agora percebo que era mais como quem diz "outra vez? não ouviste?".

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Estou com...

... uma ansiedade filha da mãe desde que acordei, tanta que hoje precisava de chegar a casa, atirar-me para o sofá e ficar ali, sozinha, a ver se passa, sem ter de pensar em fazer jantar, dar banho ao joão, vesti-lo, dar-lhe de comer, limpar o chiqueiro que fica depois da refeição, ouvir os desenhos animados, tirar e pôr dvd's ao ritmo da instável vontade de sua excelência. Pode ser que passe quando chegar a casa e tiver de fazer tudo e muito mais - tenho ideia de ontem ter visto o cesto da roupa tão cheio que metê-la na máquina não vai poder passar de hoje. Também sei que tenho o gás a acabar, pelo que existe o risco de acabar mesmo e eu ter de me meter no carro com o joão e a botija e ir até ao outro lado da cidade buscar uma nova. E se calhar ainda pego no aspirador e aspiro a casa toda. Passar a ferro é que não garanto.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Memória futura 2

Há dois dias que faz xixi no pote antes de tomar banho. Anteontem disse "anda cá" na perfeição, com as letrinhas todas. Já começou a dizer o nome dele, mas só quando lhe apetece porque ainda não lhe sai muito bem - "oao". Durante as refeições está sempre a pedir "qué mata (tomate)" e enquanto o mesmo estiver à vista (no prato dele ou no dos outros), não pára. No fim, acha que a sobremesa é sempre "mana (banana)". Está de férias, mas já diz o nome de quase todos os colegas do infantário e das educadoras - Tiá (Tiago), Pedá (Pedro), Laúa (Laura), Sara, Gui, Timtim (Martim), Mata (Marta), Na (Xana). Dorme com o Mé (Manelinho) e o Mitéi (Mickey). Já diz Mimi (Minie) e Pete. O Nó (Noddy) passou a ser o Nóia. Também diz Sonsó (Sonso, o duende) e "jamais", que é o que eu lhe digo quando olho para as sapatinhas brancas de pano que lhe comprei e que estão sempre um nojo de sujas.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Santo

Este miúdo que chorava tanto por tanto pouco, ao ponto de nos deixar todos nervosos, irritados e às vezes meios loucos, tem-se revelado um Santo nestas férias. De manhã tento levá-lo para a praia a meio do Mickey e ele vai, todo bem disposto. A água do mar está demasiado fria para tomar banho, encho-lhe um balde com água e ponho debaixo do guarda-sol e ele (salvo uma excepção), lá vai. Temos de vir embora da praia e ele deixa-se vestir, calçar, arrumar tudo e vai. Vou buscá-lo para lhe dar banho quando está a brincar com os primos e ele dá-me a mão e vai (em casa atirava-se para o chão se estivesse entretido com alguma coisa). É preciso mudar-lhe a fralda e ele vai, à minha frente, a dizer "cocó, xixi" (antes era uma birra por cada fralda). Digo-lhe que o vou deitar e ele vai para o quarto, começa a descalçar-se sozinho. Antes era preciso adormecê-lo ao colo, agora adormece na cama, sozinho (à hora da sesta também). Deixou de acordar a meio da noite. Ele, que nunca dava beijos a ninguém, agora dá beijos a toda a gente (hoje, numa loja, uma senhora pediu-lhe um beijo e ele deu).
Agora mesmo (e isto também é um verdadeiro milagre) estou ao computador e ele está a brincar, não me puxou para sair daqui nem se quis sentar para mexer nas teclas todas (o que me levaria a ter de sair de qualquer forma). E eu estou muito muito contente, embora ache que parte deste comportamento-livre-de-birras se deve às férias, à fuga à rotina, aos passeios que dá na rua, às pessoas que tem à volta dele, à mãe sem a cabeça ocupada, sempre disponível, que não lhe diz "agora não, tenho de fazer o jantar" ou "espera um bocadinho, estou a lavar a loiça", ao mesmo tempo que pensa "ainda tenho de pôr a roupa a lavar, de passar a ferro, preciso de preparar o almoço, de fazer sopa, de decidir o que vai ser o jantar de amanhã, tenho de aquecer o leite, deixar o biberão lavado, e também tenho de dormir e ir trabalhar".

P.S Agora mesmo, enquanto eu escrevia que estava um verdadeiro Santo porque até me deixava escrever, o pestinha esteve na varanda, aos saltos na água deste dia horrível de chuva que não pára. Molhou as únicas calças, a única camisola de manga comprida e as únicas sapatilhas que lhe trouxe para esta estadia que devia ser de quatro dias mas que se prolongou. Agora está de calções e na linda figura de sandálias com meias. Ralhei-lhe mas ri-me, porque também não quero um filho à prova de asneira.

domingo, 15 de agosto de 2010

Tenho um bocadinho de saudades

mas mesmo só um bocadinho. Porque aquele bebé rechonchudo de há um ano e do tempo que ficou atrás disso chorava que se fartava. Chorava imenso quando nasceu por causa das cólicas e deu-me dias infernais de licença de parto, comigo sozinha em casa e ele a chorar o tempo todo, a adormecer um bocadinho e a acordar a chorar, eu sem saber o que lhe fazer, sem tempo para comer, para ir à casa de banho, para descansar, era uma vida vivida em suspenso, sempre com um medo enorme daquele choro. De noite até nem chorava muito, mas havia de acordar pelo menos duas vezes para mamar. E eu aterrava na cama mas não tinha tempo para dormir, e na verdade também ficava em suspenso e despertava se ele não acordasse (ele acabaria por acordar sempre, só que às vezes era mais tarde). Lá para os cinco meses a coisa melhorou (a parte do choro do dia, porque o acordar para comer durante a noite foi até aos 18 meses), mas na verdade ele chorava muito. Andei a ver as fotografias destes 21 meses e percebi que, para aí até aos 15 meses, mais ou menos quando se começou a fazer entender, este rapaz foi um chorão. Chorava se o metia no parque, chorava se o deixava muito tempo na cadeira de comer, chorava nas viagens de carro, chorava porque eu não o deixava fazer o que queria (trepar para cima da mesa, mexer no armário da casa de banho, abrir a água do bidé e molhar-se todo), chorava não sei porquê, e o colo só resultava se fosse dado de pé. E eu, ainda que menos um bocadinho, continuei mesmo depois das cólicas a viver com aquele medo dele a chorar a qualquer momento. Era uma angustia, parecia que andava sempre em bicos de pés para não despertar a fera. Agora passou. Ele continua a chorar, e faz birras de se atirar para o chão, mas agora percebo (a maioria das vezes, pelo menos) porquê, e isso tirou-me o peso que tinha no peito. Portanto tenho saudades mas só mesmo um bocadinho, porque agora é muito melhor. É muito melhor tê-lo a dar-me beijinhos, a avisar-me "cocó, si-si" quando lhe digo que vamos sair, passear com ele pela mão (ainda que ele tente, tantas vezes, caminhar sozinho) , sentar-me com ele no sofá a ver desenhos animados, vê-lo a brincar e falar com os bonecos como se inventasse histórias, observá-lo a comer sozinho, rir-me quando ele põe o prato para o lado e pede "manã" (banana) com ar autoritário (mas depois não chora quando lhe dou outra coisa).

Há um ano

ele era um bebé redondinho, rechonchudinho, gatinhava por todo o lado, agora tem ar de rapazinho e ainda nem tem dois anos. Em fevereiro já andava mas ainda era uma bolinha com pernas, todo redondinho, enchouriçado na roupa de inverno, e agora continua grande e forte, mas olho para fotos de julho e já vejo um rapaz a brincar na piscina com o pai... Há um ano era preciso carregá-lo para todo o lado, sempre com ele ao colo, põe no carrinho, tira do carrinho, fecha o carrinho, mete o carrinho na mala, agora só quer andar sozinho pela rua, sem dar a mão aos pais, já entra em casa e sobe os degraus sem ajuda, e enquanto ninguém está a ver também sobe sozinho para as prateleiras cheias de pó que os amigos têm na varanda.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A verdadeira revolução feminina

acontecerá no dia em que inventarem detergentes que tirem as nódoas da roupa na lavagem da máquina. Que não nos obriguem a lavar, começar a passar e perceber que é preciso voltar a lavar, mas antes disso é melhor esfregar com sabão, pôr uma gotinha de detergente da loiça, deixar de molho, passar por água, torcer, e se calhar fazer tudo outra vez porque mesmo assim a coisa não sai. E também no dia em que inventarem um máquina que passe a ferro sozinha - uma bimby da roupa, isso é que era. E, já agora, também era útil que uma máquina qualquer pudesse aspirar a casa e limpar o pó. Até lá, não me lixem, continuaremos a ser domésticas, mesmo que trabalhemos fora.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

33

Não foi um dia perfeito (nunca é), mas teve aquele fim de tarde no parque da cidade, com o joão a dizer "mamã" (e "papá") como quem diz gosto de ti, a chamar chê jé (senhor josé) como quem anuncia "olha o que eu sei dizer", a pedir "tiás" (muitas bolachas come aquele miúdo) e a besuntar-me as calças com os restos , a empoleirar-se no pai deitado na relva, a aninhar-se nas minhas pernas, a deslumbrar-se com a erva que lhe entrego para a mão, a enfiar-se no meio dos patos, dos gansos, das pombas e das gaivotas como eu nunca tive coragem. E ainda teve o jantar, uma hora e meia sentado na cadeira entretido a deixar-nos comer sem pressas, portou-se mesmo bem. E teve aquele copo de vinho que me descontraiu como eu estava a precisar. E o anel, que me ficava mal de manhã, nos dedos inchados e ainda dormentes, pouco passava das 8h e já o miúdo me queria arrastar para fora da cama - mas agora acho que é o mais lindo do mundo.

domingo, 8 de agosto de 2010

Na praia

Li isto http://missdezembro.blogspot.com/2010/08/o-melhor-do-mundo.html (sou uma nulidade a fazer estas ligações, lamento) e lembrei-me da minha figura, há uma semana, na praia sozinha com o joão. Ele levou a mochila dos baldinhos e pázinhas e moinhos e forminhas às costas, eu carreguei o guarda-sol (já nem eram bem horas de irmos para a praia, quase 11h30), o pára-vento (não se podia estar sem ele), a mochila com as fraldas, toalhitas, pomada para o rabinho, bolachinhas, garrafinha de água, muda de roupa e porta-moedas para o caso de ser preciso, o saco com as toalhas (não, já não cabia na mochila) e o miúdo pela mão. Fui-lhe buscar um baldinho com água, assim brincas quietinho à beira do guarda-sol e eu fico sossegada. Mas não: olha que te molhas, sim, eu faço o castelinho, e o peixinho, e o cavalo-marinho, e agora tudo outra vez, molhaste a t-shirt toda, está frio para ficares assim. Hum, temos de a tirar, mas o balde ainda tem água, se a despejo vais fazer birra, tens a areia toda colada ao corpo, como é que eu te vou levar daqui para fora? Aqui vai a água, oh, já não há, dá cá essa camisola, toma lá esta t-shirt seca, brinquedos molhados e cheios de areia todos para dentro da mochila dos brinquedos, fecho o guarda-sol, deixa estar isto, joão, não mexas, enfio o guarda-sol no plástico que se está a desfazer, anda cá, joão, toalhas para dentro do saco, aí não se mexe, joão, mochila às costas, guarda-sol num ombro, saco das toalhas no outro, o pára-vento a esvoaçar, deixa estar joão, ainda te magoas, amasso o pára-vento de qualquer maneira, anda cá ao colo joão, mais 15 quilos de bebé com um mochila de brinquedos às costas no meio desta tralha toda não é nada.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Genética

Devo ter um gene trocado, uma anomalia genética, um defeito profundo que não me permite entender-me com a minha mãe. Isto acontece sobretudo quando ela está com a minha tia, o que acentua a possibilidade de eu ter um erro qualquer nos cromossomas. Se falo é porque vejo problemas em tudo, e nunca consigo falar de maneira a que ela diga "eu compreendo", "eu percebo a tua perspetiva" ou "tens razão". Se fico calada, fica aquele silêncio, aquela sensação de que andamos todas a engolir as palavras, que parece que só a mim me incomoda. Ela ajuda-me imenso, liga todos os dias a saber se está tudo bem, cuida do joão, fica com ele se tenho de trabalhar ou se decidimos ir para fora, compra-me frigideiras sem eu lhe pedir nada porque vê que as minhas estão um nojo e arranja-me palmilhas para uns sapatos largos porque sabe que eu vou andar meses para as comprar... Mas, mesmo quando faz estas coisas todas e muitas mais, eu fico a sentir, quase sempre, que fiz qualquer coisa mal... que devia ter agradecido mais, que não devia ter pedido, que devia ter comprado a frigideira, a palmilha, que não a devia ter incomodado... Eu gosto de estar com ela, só gostava que ela me fizesse sentir que gosta de estar comigo. E se isto fosse uma conversa entre nós, ela ia dizer que eu é que não a faço sentir apreciada. Receio bem que nunca consigamos sair desta pescadinha-de-rabo-na-boca.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Teve negativa ao sono...

... porque a primeira hora da sesta passa-a às voltas na cama, mas de resto foram só coisas positivas: diz que é sossegado e bem disposto, está confiante e à-vontade na sala, consegue manter a atenção nas atividades desenvolvidas durante algum tempo, já assinala as presenças dos colegas (elas mostram a foto e os meninos têm de dizer quem é - ele ontem foi o primeiro a assinalar três), faz algumas birras mas passa-lhe rápido (disse-me a educadora que há miúdos que não desviam a atenção daquilo que querem mas não podem ter e que ficam a chorar eternidades). Eu saí de lá com a sensação de que, afinal, ele até é bem sossegado, comparando com os outros.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Avaliação

Até agora limitava-me a levar e buscar, a saber se tinha estado tudo bem, se comeu, se dormiu, se fez cocó... Mas hoje tenho reunião de avaliação na escola do joão. Imagino que aos 20 meses não haja muito para avaliar, mas acho muito chique e até estou um bocadinho nervosa.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Se não os podes vencer...

... leva-os contigo para a depilação. Foi o que fiz, no sábado. Depois de passar dias e dias a olhar para a agenda sem conseguir encaixar a depilação num dos dias em que o P. está de folga, decidi arriscar: esperei que o joão acordasse da sesta e lá fui eu fazer a depilação com ele sentado em cima de mim. Correu muito bem, portou-se lindamente e ainda achou tudo aquilo bem divertido.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Tenho saudades

das noites de sono profundo e descansado das férias, de chegar à cama e apagar, de não passar a noite a dormir ao mesmo tempo que dou voltas na cama às voltas com os pensamentos que não consigo resolver durante o dia (não é nada de especialmente profundo, o meu problema é mesmo o dia-a-dia: o trabalho, o joão, a roupa para passar, a casa para arrumar, ir ao supermercado, ir à consulta, o que vou fazer para o jantar, esta semana não consigo encaixar a depilação em lado nenhum, no próximo mês também quero ir ao cabeleireiro, e ainda quero ter tempo para nós). A minha cabeça é uma agenda a tentar organizar-se a si própria, de dia e de noite.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Memória futura

Acho que lhe nasceu o primeiro dente em agosto do ano passado, tinha ele nove meses. Começou a gatinhar também no verão do ano passado, antes de agosto, mas não sei ao certo quando. Começou a andar sozinho ainda não tinha um ano, mas não gostava de andar sozinho, de maneira que foi preciso esperar até dezembro, quando tinha 13 meses, para conseguir que ele me largasse o dedo enquanto andava. No sábado aprendeu a dizer caca, mas as palavras preferidas são mesmo "mamã" e "papá". Também diz bá (água), tiá (bolacha e Tiago), tió (iogurte), pá (pão), bó (avó), bi (rui), pé (pedro), na (xana), nó (nodi), padá (panda), mitei (mickey), patá (pateta) e acho que não diz muito mais. Tem 20 meses, calça o 23 quase a passar para o 24, veste roupa de dois/três anos, adora bolachas e ao resto da comida também não diz que não, há coisa de um mês deixou de acordar todas as noites, ou quase, para beber o leite, mas não se esquece dele antes de se ir deitar.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Pré-escolar

Pensei que fosse fácil, que bastava uma pesquisa rápida, mas percebi que é suposto toda a gente saber qual o horário praticado pelos estabelecimentos de ensino pré-escolar público - não consegui descobrir em lado nenhum. Mas já desisti da coisa: apareceu-me um calendário do próximo ano lectivo à frente e percebi que, mesmo que o horário me conviesse, as férias seriam tantas que o que poupasse com a transferência do João teria de ser gasto em inscrições em oficinas, workshops e afins.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Estou sozinha (sem marido) há uma semana e um dia e, anteontem (quando ainda nem uma semana tinha passado), não consegui resistir: pedi à minha mãe que viesse cá passar o fim-de-semana, porque a perspectiva de passar o fim da tarde de hoje e o dia todo de amanhã sozinha com o miúdo me parecia insuportável. Mais porque acho que lhe faz bem ver outra cara que não a minha do que pela ajuda. Ela ficou de dizer alguma coisa. Fiquei com medo que ela dissesse que não. Ligou agora a dizer que estava a caminho e eu fiquei com medo de a ter deixado um bocado alarmada com o meu medo - ainda que não lhe tivesse dito que estava com medo. So perguntei se queria vir, que estávamos sozinhos, mas disse como quem diz "podias vir, estamos a precisar". A minha mãe não é mãe de me fazer as vontades, por isso estranho quando ela faz. Estou preocupada porque acho que ela está preocupada comigo e também não é caso para tanto. A minha cabeça está a dar um nó.

Será possível

que o resultado da primeira semana de trabalho após as férias seja eu a olhar para a agenda num esforço inglório de multiplicar os cinco dias que ainda faltam gastar?

O resultado...

... da passagem pelos saldos foram uma camisola e um par de sapatos. Não vim de alma cheia, mas hoje de manhã estava absolutamente satisfeita com o meu plano de contenção.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Logo, quando sair (daqui a uma hora), vou aos saldos. Sozinha. Sem o carrinho de bebé, sem o João a puxar as etiquetas das roupas (quando passou a andar mais tranquilo e a não chorar quando enfiado nas lojas por demasiado tempo, passou a puxar as etiquetas das roupas) e sem ter de lhe dar bolhachas para conseguir experimentar umas calças que são mesmo aquilo que eu queria, que estão em promoção e que não vão ficar à espera que eu volte sem ele (aconteceu no domingo). Tenho em vista dois pares de sapatos e uma camisola, mas ainda não sei se o saldo que lhes foi aplicado me permitirá ter coragem para levar isto tudo para casa. Mas o mais importante é ir, sozinha. Depois vou ter de ir buscar o João, estacionar a quilómetros da porta de casa, aturar-lhe a birra que ele vai fazer porque vai querer sentar-se ao volante e ficar a brincar no carro, levá-lo ao colo, dar-lhe banho, fazer o jantar, dar-lhe o jantar (só a sopa, porque o resto ele come, ou espalha, sozinho), arrumar a mochila dele para amanhã, assistir pacificamente à troca desenfreada dos dvd's, preparar a minha marmita para amanhã, deitá-lo, pôr a roupa para lavar, apanhar a roupa do estendal, olhar para o monte de roupa que se amontoa no quarto e pensar que não aguento mexer mais uma palha, talvez amanhã, depois do trabalho, se a ronda pelos saldos de hoje correr bem.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Uma vida nova

Ainda não te fui visitar, e vou tentar não ir tão cedo, porque sei que só vou acrescentar mais confusão à confusão que deve girar à tua volta. Mas, mesmo com essa imagem de confusão, como te imagino é serena, com ela ao colo muito tranquila e com a sensação maravilhosa de ter uma vida nova nos braços. É das melhores sensações do mundo, essa de dar vida a uma vida nova, virgem, cheia de potencial, com todas as possibilidades do mundo. Perdem-se horas a olhar para estes seres tão pequenininhos que sairam das nossas entranhas, a deliciarmo-nos com aquela felicidade, a pensar como é possível termos feito aquilo e a embevecermo-nos com aquela coisa linda, tão perfeita, com aquele narizinho, aquelas mãozinhas, aqueles dedinhos todos. Quando foi comigo não consegui deixar de me sentir incomodada com a confusão à minha volta, com o telefone do P. que não parava de tocar e que ele não deixava de atender, com as visitas que me apareciam em casa sem eu querer, com quem me dizia "tens de descansar e aproveitar enquanto ele dorme" mas ao mesmo tempo estava em minha casa a impedir que eu descansasse e aproveitasse o sono dele, com alguns dos olhos postos nas minhas mamas enquanto ele mamava, com a casa de banho que ninguém limpava, com as dúvidas todas acerca de tudo o que dissesse respeito a tratar dele. Não deixes: tenta prolongar esse estado de graça, porque (mesmo quando são rabugentos) é mesmo muito bom quando eles são recém-nascidos.