domingo, 15 de agosto de 2010

Tenho um bocadinho de saudades

mas mesmo só um bocadinho. Porque aquele bebé rechonchudo de há um ano e do tempo que ficou atrás disso chorava que se fartava. Chorava imenso quando nasceu por causa das cólicas e deu-me dias infernais de licença de parto, comigo sozinha em casa e ele a chorar o tempo todo, a adormecer um bocadinho e a acordar a chorar, eu sem saber o que lhe fazer, sem tempo para comer, para ir à casa de banho, para descansar, era uma vida vivida em suspenso, sempre com um medo enorme daquele choro. De noite até nem chorava muito, mas havia de acordar pelo menos duas vezes para mamar. E eu aterrava na cama mas não tinha tempo para dormir, e na verdade também ficava em suspenso e despertava se ele não acordasse (ele acabaria por acordar sempre, só que às vezes era mais tarde). Lá para os cinco meses a coisa melhorou (a parte do choro do dia, porque o acordar para comer durante a noite foi até aos 18 meses), mas na verdade ele chorava muito. Andei a ver as fotografias destes 21 meses e percebi que, para aí até aos 15 meses, mais ou menos quando se começou a fazer entender, este rapaz foi um chorão. Chorava se o metia no parque, chorava se o deixava muito tempo na cadeira de comer, chorava nas viagens de carro, chorava porque eu não o deixava fazer o que queria (trepar para cima da mesa, mexer no armário da casa de banho, abrir a água do bidé e molhar-se todo), chorava não sei porquê, e o colo só resultava se fosse dado de pé. E eu, ainda que menos um bocadinho, continuei mesmo depois das cólicas a viver com aquele medo dele a chorar a qualquer momento. Era uma angustia, parecia que andava sempre em bicos de pés para não despertar a fera. Agora passou. Ele continua a chorar, e faz birras de se atirar para o chão, mas agora percebo (a maioria das vezes, pelo menos) porquê, e isso tirou-me o peso que tinha no peito. Portanto tenho saudades mas só mesmo um bocadinho, porque agora é muito melhor. É muito melhor tê-lo a dar-me beijinhos, a avisar-me "cocó, si-si" quando lhe digo que vamos sair, passear com ele pela mão (ainda que ele tente, tantas vezes, caminhar sozinho) , sentar-me com ele no sofá a ver desenhos animados, vê-lo a brincar e falar com os bonecos como se inventasse histórias, observá-lo a comer sozinho, rir-me quando ele põe o prato para o lado e pede "manã" (banana) com ar autoritário (mas depois não chora quando lhe dou outra coisa).

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