segunda-feira, 29 de novembro de 2010
O pai?
Quando eles são pequeninos ficar sem marido é (para além das saudades) muito mau: não há ninguém com quem partilhar más noites, que são muitas e muito más, não há quem olhe por eles enquanto tomamos banho, não há quem pegue neles ao colo para nos afundarmos no sofá ou fumarmos um cigarro enquanto nos convencemos a nós próprias de que ainda existimos, apesar de só convivermos com um ser que pouco mais diz do que "da-da", apesar de estarmos desgrenhadas, cheias de papa e outros restos de comida, sem uma peça de roupa decente, apesar do buço que mais parece um bigode, apesar do cansaço. Quando eles começam a falar e a ter noção da vida à volta deles, ficar sem marido é (para além das saudades) igualmente mau, parece-me a mim, agora que se aproxima uma jornada de pelo menos quatro dias sem ele. Já o estou a ouvir (ao mais pequeno) a perguntar, vezes sem fim: "O Pai?". Ter de responder, durante todos estes dias "o pai foi trabalhar", sem conseguir explicar que ele volta na sexta feira e que sexta feira fica já ali ao virar da esquina (porque o miúdo ainda não tem essa noção do tempo) doi mais do que aqueles dias de quase loucura da solidão do primeiro ano.
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