quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Birras
Ontem, depois do trabalho, fui buscá-lo. Antes de ir para casa, paragem no supermercado para ir buscar pão e peixe fresquinho para o jantar. Da última vez que lá fomos, ele até se distraiu a olhar para os "pixus", mas, desta vez, os grandes estrategas de marketing do supermercado tinham ali colocado uma banquinha de livros infantis. E assim começou o "João, anda cá", "Não mexas nos livros", "Deixa-te estar quieto", "Não saias daqui", de tal maneira que quando a empregada perguntou se eu queria que partisse os filetes em dois ou em quatro, tive de lhe responder "Faça como achar melhor" - estava sempre a olhar para ele, mal consegui olhar para os filetes. Na caixa, novo filme, ainda pior: "João, deita-te estar aqui", "João, não fujas", "Olhe que ele vai entalar os dedos", e ele a rir-se, aos saltos, a sair e entrar das várias filas da caixa, a entrar e sair de um fogetão daqueles onde se mete as moedas, as empregadas já a olhar para mim cheias de pena, uma até lhe ofereceu um copo com bonecos a ver se ele parava, alguns clientes a torcer o nariz de reprovação. Para sair de lá, nova crise: eu a dizer vamos embora, ele a querer continuar a pular por todo o lado, como se o supermercado fosse o maior e mais fixe parque de diversões do mundo. Lá lhe disse que iamos procurar o carro e ele interrompeu a ameaça de birra. Junto ao carro, estacionou na porta da frente, a mão colada no puxador que ainda não consegue puxar, eu cheia de sacos, a pedir-lhe para sair, para me deixar pousar as coisas. Pedi meiguinha, pedi com voz firme, e o gajo nada. Pousei os sacos e tirei-lhe a mão do puxador - atirou-se para o chão a chorar, por sorte não aterrou numa poça de água. Em casa a mesma coisa para tomar banho, para comer a sopa, porque não havia banana, porque não queria mudar a fralda antes de ir para a cama.
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