quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Uma vida nova
Ainda não te fui visitar, e vou tentar não ir tão cedo, porque sei que só vou acrescentar mais confusão à confusão que deve girar à tua volta. Mas, mesmo com essa imagem de confusão, como te imagino é serena, com ela ao colo muito tranquila e com a sensação maravilhosa de ter uma vida nova nos braços. É das melhores sensações do mundo, essa de dar vida a uma vida nova, virgem, cheia de potencial, com todas as possibilidades do mundo. Perdem-se horas a olhar para estes seres tão pequenininhos que sairam das nossas entranhas, a deliciarmo-nos com aquela felicidade, a pensar como é possível termos feito aquilo e a embevecermo-nos com aquela coisa linda, tão perfeita, com aquele narizinho, aquelas mãozinhas, aqueles dedinhos todos. Quando foi comigo não consegui deixar de me sentir incomodada com a confusão à minha volta, com o telefone do P. que não parava de tocar e que ele não deixava de atender, com as visitas que me apareciam em casa sem eu querer, com quem me dizia "tens de descansar e aproveitar enquanto ele dorme" mas ao mesmo tempo estava em minha casa a impedir que eu descansasse e aproveitasse o sono dele, com alguns dos olhos postos nas minhas mamas enquanto ele mamava, com a casa de banho que ninguém limpava, com as dúvidas todas acerca de tudo o que dissesse respeito a tratar dele. Não deixes: tenta prolongar esse estado de graça, porque (mesmo quando são rabugentos) é mesmo muito bom quando eles são recém-nascidos.
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