sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Crise

Ontem, nos intervalos do trabalho, tive de ler o contrato de arrendamento, mandar um mail ao senhorio a acertar os últimos pormenores, preencher a ficha de inscrição do joão no novo infantário, pagar a inscrição, mandar mail ao infantário, ligar para a Clix, a Zon e o Meo depois de consultar os respetivos sites, ver preços, serviços, escolher, contratar o serviço, e ainda despachei três textos numa hora. Saí atrasada, passei pela mercearia para comprar pão, cenouras, bróculos e cebolas, e ainda trouxe duas caixas para as mudanças. Fui buscar o joão, fomos para casa eu, ele, as caixas e as compras, liguei-lhe a televisão, descongelei o peixe, cortei os legumes, fui empacotar, primeiro na cozinha depois no quarto, apanhei a roupa, meti roupa na máquina, passei a ferro porque o miúdo já não tinha t-shirts para vestir, interrompi para lhe dar banho, dei-lhe banho, vesti-o, meti o peixe a grelhar, liguei outra vez o ferro para passar o vestido para o casamento de amanhã, fui espreitar o peixe, acabei de encaixotar, dei o jantar ao joão, comi, lavei a loiça. Estava a acabar de limpar o chão da cozinha quando a máquina acabou de lavar, fui estender a roupa, sentei-me no sofá e o P. chegou. Primeira pequena crise já não sei exatamente porquê, mas basicamente foi porque estava demasiado cansada e impaciente. Mudei a fralda ao joão (fiz questão, não sei porquê) e ele deu-lhe o leite. Sentei-me no sofá outra vez a tentar desligar. Depois veio o P. tentando sensibilizar-me para o problema de um amigo e eu já não conseguia pensar em nada. Acabei a noite em lágrimas, de nervos e de cansaço, como se a minha cabeça já não conseguisse suportar mais informação. Hoje tenciono chegar a casa e não fazer nada a não ser depilar as pernas e estar com o joão.

3 comentários:

dora disse...

Nessa espiral de tarefas entrelaçadas que eu tão bem conheço, parece-me haver coisas a mais. O segredo para sobreviver à maternidade-que-trabalha é deixar para lá o que pode ser deixado para lá, sem remorsos ou sentimentos de culpa. É uma aprendizagem, tal como é saber lidar com os filhos. É aprender a saber lidar connosco e com as nossas manias da perfeição - não estrebuches, que eu bem sei como és (e eu também estou a deixar de ser assim).
Empacotar, por exemplo, não seria uma prioridade. Talvez fosse a única coisa que podias deixar de ter feito, mas era uma coisa essencial, já que empacotar exige decisão e concentração, coisas que cansam a cabeça.
Adiar é preciso. Os dias não esticam - velha e sábia máxima. Nem nós vamos para novas - outra sábia máxima (não uso a palavra velha, já me chegam as brancas!).
Beijos e muita paz, amen.

charlote disse...

Eu sei que o meu dia-a-dia já é bem pesado mesmo quando não tenho de empacotar. Eu sei que empacotar só veio acrescentar confusão e muito cansaço ao meu segundo emprego (ser mãe e dona de casa, sim, porque ninguém me venha dizer que isto não é trabalho). Também sei que sou uma perfecionista e não empacoto à toa, para ver se desempacotar não se torna demasiado difícil. Mas eu tenho mesmo de empacotar, porque vamos mudar de casa no fim do mês. Podia contratar alguém que empacotasse por mim, pois podia, mas não era a mesma coisa (sobretudo no preço). E também sei que devia relaxar e coisa e tal, mas se fosse assim não estava a ser eu :)

Anónimo disse...

Adoro este blog.não sei se é porque me revejo nele se porque me faz sentir melhor, sabendo que afinal não sou caso único. ao ler o resumo deste dia não vejo senão os meus dias. levantar as crianças às 7, deixar na escola às 8 e entrar no trabalho à mesma hora; viver o dia a correr porque a agenda está cheia e quero conseguir sair a horas; ir buscar as crianças à creche; pegar o carro no estacionamento com as mochilas que eles não carregam, com a minha própria sacola e, por vezes, com as compras que faço durante o dia para evitar levá-los e demorar o triplo; chegar a casa pôr roupa a lavar (literalmente todos os dias), adiantar o jantar, passar a ferro, dar banhos, jantar, arrumar cozinha, preparar mochilas, a árdua tarefa de os deixar a dormir depois da história... quando me consigo finalmente sentar no sofá já só me apetece é ir dormir também. às vezes, de tanto cansaço, basta uma palavra menos "bem colocada" para descarregar sobre quem até nem tem culpa nenhuma mas que tem o azar de estar lá, mesmo que igualmente cansado... Mas tenho aprendido a controlar o stress e estou a aprender a levar a rotina da casa mais de ânimo leve, porque cheguei à conclusão de que não adianta irritar-me só porque alguma coisa está fora do lugar. o que mais dói é quando sentimos que os outros, principalmente quem está ao nosso lado, parece que desvalorizam esta nossa segunda profissão que, afinal, acaba por ser ainda mais exigente do que a primeira.
beijinhos e FORÇA