segunda-feira, 30 de junho de 2008

Não doi, e também não assusta. Mas dou por mim a surpreender-me de uma forma que não consigo descrever quando ele me dá uns pontapés mais fortes. E a minha reacção a esta surpresa, ao fim de uns poucos mais violentos, é sorrir sozinha, como se sorrisse para ele, numa atitude cúmplice que gosto de imaginar que ele também tem, porque foi assim que nos ensinaram a lidar com esta vida dentro de nós (embora às vezes também pense que, se calhar, ele está ali na vida dele, não está propriamente a tentar comunicar comigo). Na verdade, nem sei bem se isto são pontapés. Às vezes parece que, ao dar grandes voltas no meu útero, ele faz ondas no líquido amniótico e é isso que eu sinto mexer cá dentro. Andei três meses a sentir só o pior das hormonas e a maldizê-las o tempo todo, para chegar aqui e ficar assim, babada com isto.

No início zanguei-me um bocado com aquelas grávidas que vi andarem em estado de graça o tempo todo, ou que me apresentavam relatos de como é suposto tudo ser lindo e gracioso (ou, suprema irritação, aquelas que, ex-grávidas ou mais virgens do que eu nestas coisas da maternidade, falavam comigo como se tivesse de estar tudo lindo e maravilhoso). Mas agora acho que, se calhar, elas, as ex-grávidas, apenas se esqueceram da espera. E também não sei se, de livre iniciativa, terei coragem de contar às próximas que aquele estado de graça não é bem assim. Porque acho que ele acaba por chegar, só não é bem aquilo que idealizámos que seria...

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